2 de mai. de 2015

T i o IG (Ignacio)








Gosto muito de escrever,
exorcismo dos meus demônios, ou culto aos meus anjos.
Contar historinhas... Lembranças apenas.

Pensando muito no meu irmão amado IG, Ignacio.

Sabe aquela pessoa fofa, no melhor sentido da palavra.
Me chamava de Nica.
 (Alguns me chamam NICA, Nicolina, Nichelsa, Niiiiiii, 
pro Tiko sou Nitche, já me chamaram de NIÊ).
maneira carinhosa de reconhecer quantas NICES sou.

IG meu irmão amado.
Oi amore, ao atender o telefone ou mandar uma mensagem.

Em alguns momentos difíceis de minha vida,
Ele literalmente ficou ao meu lado, silenciosamente.
Silêncio confortador.
num desses momentos, passamos a noite inteira sentados sala.
Poucas palavras naquele 13 ou 14 de abril de mil e não sei quanto.


IG meu filho amado.
morou por um tempo comigo e Cley.
No nosso apartamento depois em nossa casa.
Tivemos uma convivência feliz.
Ele se fazia presente, amigo e companheiro.
Assim como se tornava invisível
Vendo TV à noite, deixava  o som tão baixinho.
Nunca foi inconveniente, nem interferiu na nossa vida.

IG  meu marido de aluguel.
Aqui em casa tem torneiras, luminárias, tomadas,
espelhos, tudo instalado por ele.
Parafusos apertados, impossíveis de desaparafusar.
Tamanha a força ele tinha.

Digo sempre sou muitas nices.
IG também era muitos.
O fofo, o companheiro, o faz tudo, o cozinheiro e muitos mais.
Era meu irmão, meu cunhado, meu concunhado,
vista que era irmão de meu marido e casado com minha irmã.

Tanta doçura e fofurice.
Em algumas ocasiôes, saia no braço.
Brigava assistindo um jogo de futebol na TV,
Naquele 7 x 1, copa do mundo,
 só não quebrou a TV, por estar na minha casa.
Já deu murro na "cara de um cara" no supermercado.
Tinha seus momentos de "valentia".

Meu irmão tão amado, tantas saudades.
Tantas lembranças...
Você adoeceu, perdemos você.
Doeu tanto saber que você estava partindo.
Dor tamanha, ao te ver pela ultima vez.
Adoeci, meu corpo não agüentou tanta dor.

IG
Me sinto ainda meio adoentada.
Esse meu jeito de não saber lidar com as perdas
Dias as lembraças são acalento, outros são tormento

Bom dia AMORE, onde quer você esteja.














4 de fev. de 2014

CAVEIRINHA MEXICANA






Enfim sou uma pessoa tatuada.
O medo de fazer algo definitivo sempre me assombrou,
Mesmo gostando muito de tatoo, não me encorajava,
ainda que fosse uma tatoo minúscula.

Pensava...  uma rosa, adoro.
Talvez uma florzinha azul, a predileta do Cley.
Ou ainda estrelinhas, patinha de cachorro,
símbolo do infinito, olho grego, pimenta vermelha,
girassóis, golfinhos, uma delicada tribal.
um peixinho (se engordasse muito ia virar baleia)

Ou simplesmente Cley.
Tatuar o nome do meu amado
piada: Cley tatuado no meu corpo,
um namorado só se fosse Cleyton, Cleysivam,
Cleyandersom, Cleynilton, Cleylizardio, Cleyton
 ou Cleydir, assim por Diante...
Desisti de tatuar um nome.
Não que pense em namorado,
nunca se sabe...

Coleciono corujas, não achei boa idéia
Sempre ouviria de alguém “duas corujas”.
Iniciei uma coleção de bonequinhos de super heróis.
Hulck,  O Coisa, Batman ou Wolverine...
Mulher Maravilha, não ia dar certo.

Ultimamente observo as caveiras mexicanas,
De certo modo me conquistaram pela beleza e colorido.
Em casa na parede um enorme adesivo, gosto muito.
Pesquisei com o Sr. Google e dona Wikipédia.
Gostei de saber, é usada também para homenagear
entes queridos que se foram, era minha idéia.

Quando você tem uma dúvida, coisas vão acontecendo,
chamando nossa atenção.

Tempos atrás comprei uma mini escultura,
Uma pra mim outra para Tathi.
um crânio de material imitando bronze,
(na verdade um apontador de lápis).
A minúscula caveirinha tem o maxilar articulado.
Podendo se abrir e fechar a boca da caveira.
Meu Fiho - genro Edinho pra sacanear botou um cigarro na boca da caveira.
Tathi que herdou do pai o humor (as vezes humor negro),
Logo disse “olha o Seu Cleycir”, Edinho que lembrara o sogro e
seu cigarro inseparável rachou de rir,
pois foi a primeira idéia a lhe passar pela cabeça.
Apenas não disse, temendo magoar minha filha.
Daí pra historia correr pela família, rapidinho.
Na mina casa, a pequena caveirinha vez por outra tem um cigarro na boca,
E é carinhosamente chamada de Cley.

Amadurecendo a idéia, decidi pela caveirinha mexicana.
Por ser plasticamente linda.
pelo simbolismo de reverenciar meus mortos.
Principalmente para meu amado Cley.
Que por certo diria “QUE COISA RIDÍCULA”

Quanto ao meu medo por tudo que possa ser definitivo,
Não temo mais, até essa pequena tatuagem não é definitiva,
Posso cobrir com tinta da cor da minha pele,
Também sofrer um acidente e perder o braço.
(olha o humor negro aí gente).
Aos sessenta anos o definitivo hoje é menor...
Que seja definitivo  a minha alegria de viver.
Ficar feliz com pequenas coisas,

Mesmo que seja uma pequena tatoo.

21 de jun. de 2013

OLHA ISSO HENFIL !





Penso no Henfil, 
Millor, Ivam Lessa, Ziraldo.
Na biblioteca da minha memória,
abro o pequeno Pasquim....
estou em 1968, apesar da pouca idade.
Reuniões furtivas nas tardes de domingo.
Jovens estudantes a querer mudar o mundo.
Traziam ao nosso conhecimento as notícias censuradas.
De 1964 passando por 1985 até 2013.
Muito mudou, muito continua igual.

2013 / junho.
Semana de protestos.
Cansados de pagar um preço alto
por transportes indignos e indecentes.
Foram pra rua protestar, coisa bonita de ver.
Meu coração bateu mais forte no peito,

Indignada! com a repressão policial.
Tal como me sentia em 1968.

Primeiro dia a policia desceu o Pau,
como em nós em 1968.
E tome bala de borracha, cacete, gás pimenta .
A mesma covardia. Como em nós em 1968.
Aí a turma caiu matando...
Os “HOME”, se tocaram.
O policiamento ficou mais leve,
focando os baderneiros.
Os protestos continuaram o mais pacificamente possível.

Muitos se aproveitando da situação,
arrastão, carro incendiado, vandalismo...
Os infiltrados, os marginais, os laranjas.
os mesmos de 1968.

Alckmin e Haddad aqui em São Paulo,
seus iguais noutros estados, ávidos
pra passar o chapéu lá no governo federal,
receberam um redondo não.
Deram pra traz, cederam ao manifesto,
as passagens voltaram ao preço anterior.
De mãos dadas, no carão "informaram":-
farão cortes nos investimentos...
Cá entre nós, notei um certo desconforto no Alckmim.
Ele que sempre tem aquela cara de chuchu,
tinha os olhos faiscando, de raiva.

Voltando às ruas...
Foda! ontem um rapaz morreu, tantos outros ficaram feridos.
Um tal de "Zé das couves" jogou o carro pra cima.
E matou um... tristeza, uma vida é um preço muito alto.
Aqui e ali vândalos, saqueadores, deu de tudo.
Nada tirou o brilho da manifestação
coisa de arrepiar... como aconteceu em 68.

Andam dizendo que o gigante adormecido acordou,
Eu antes preocupada com essa geração.
Pensava, eta turminha de alienados.
Ligados em Iphones, Ipads, e toda essa tecnologia.
Pois é me enganei...
Jovens coloriram as ruas de verde amarelo,
eram cordões tentando conter os arruaceiros.
Sem  bandeiras de partidos políticos.
Cantaram palavras de ordem, paz e cidadania.
Nosso hino nacional ecoou nos quatro cantos da nossa terra.
no meu peito "ufanado" o coração disparou.

Minha fé na cidadania do nosso povo renasceu.
Chorei ao ver fotos, chorei ouvindo nosso hino.

Os jovens de cabelos brancos levavam uma faixa:-
"Os jovens de 1968 apoiam os jovens de 2013"
Eu de 1968 estou aqui em 2013.

Esperança,
Que a corrupção não seja mais uma instituição nesse país.
Dinheiro publico administrado com honestidade e competência.
Saúde, educação, transporte dignos, para todos, etc etc etc.
Muitos hospitais, estradas, escolas, centros culturais e esportivos:
estádios de futebol seguros, SEM SUPER FATURAMENTO.

Esperança,
que esses jovens de hoje, não sejam os corruptos de amanha,
como tantos de nós de 1968...





de 1968 para 2013, minha esperança e fé,
que a luta continue, pacificamente...














11 de mai. de 2013

MINHA MÃE.




Tenho um pacto comigo mesma,
fazer o possível e o impossível para não me entristecer.
Nos dias que a tristeza teima em chegar,
permito – lhe a companhia por pouquíssimo tempo.
Rodo a baiana e bola pra frente.

Dias das Mães chegando,
o segundo ano sem a Dona Tereza.
Xô tristeza xô
Vasculho o velho baú das minhas lembranças,
A procura de alguma historinha alegre e divertida,

Minha mãe ao telefone,
repetia a mesma estória inúmeras vezes.
Fatos, antes já falados, ela os narrava com pormenores.
 a gente ouvia como se fosse a primeira vez.
Todas as noites um telefonema de boa noite.
Sempre tinha algo a comentar, e falava, falava...
Até que ela desligasse o telefone, 
muitos “boa noite mãe” eram ditos.
Continuava falando, falando, falando...

O jargão era:- não pergunte nada pra vó,
ela vai explicar, explicar e explicar... 

Diariamente fazia uma verdadeira via sacra,
Ao final da tarde uma passadinha rápida na casa das filhas.
Sempre se explicando, “uma passadinha rápida”.
Era assim mesmo, tempo para um cafezinho.
Examinava nossos rostos, certificando-se estarmos bem.
Servia-se de água gelada, correr o olhar pela geladeira,
verificando disfarçadamente se nada nos faltava.

No dia de receber a “mesadinha” dela,
A visitinha diária se estendia um pouquinho.
Eu me divertia demorando a entregar o cheque.
Observando furtivamente, percebendo – lhe a ansiedade,
Talvez pensasse que eu esquecera...
Notava – lhe os olhos meio aflitos, ainda assim nada dizia.
Um café, um bate papo, uma enroladinha.
Entregava – lhe o cheque, o qual recebia e agradecia.
Uns minutinhos mais de conversa, amenidades.
Ela se levantava, e ia embora, eu a observava.
Seus ombros curvados não lhe tiravam a elegância natural.

Nos dias de reunião em família ou festas,
Vinha sempre muito bem arrumadinha;
suas roupas sempre bem cuidadas,
jamais denunciavam o tempo de uso.
Um batonzinho em tom amarronzado,
No rosto uma leve camada de pó compacto,
Colarzinho, pulseirinhas  e brincos.
Um perfume leve e gostoso com cheirinho de mãe.

Dia das mães, saudades de vê-la chegando para nosso almoço.

26 de abr. de 2013

GEOMETRIA + COLA = AMOR PLATÔNICO

















Reencontro através das redes sociais.
Roseli, amiga dos tempos do colegial, no Municipal de Poá.
Envio e-mail  perguntando se ela era ela mesma,
alguns detalhes do nosso tempo no colégio.
Resposta confirmando ela era ela mesma.
Minha companheira de “banco” na sala de aula.
Garota divertida e extrovertida, de descendência italiana.
Trazia riso aberto e fácil, o rosto claro sempre avermelhado.
As aulas vagas eram uma farra, ela sempre a imitar alguém.

Na sala de aula bancos para dois alunos, em madeira escura envernizada, 
acento e encosto ripado, a mesa “chamada de carteira”,
com um pequeno compartimento para guardar os cadernos,
lanche, até  a  “cola para os dias de prova”.
Mesas tão rabiscadas com canetas, lápis ou canivetes.
Por vezes nem precisávamos escrever a cola a lápis,
aluno do turno anterior já deixava a cola prontinha.

Falando em cola, nunca fui muito boa nisso,
colar na cara do professor era coisa que não conseguia mesmo.
Confesso, não era por honestidade.
Sim por total incapacidade, o sangue fervia, o rosto avermelhava.
Definitivamente não tinha sangue frio para tal atitude.
Não querendo me fazer de  CDF,
se eu gostasse da matéria ou especialmente do professor,
preparava - me para as provas e acabava indo bem, com notas razoáveis.

Naquele dia tínhamos prova de desenho geométrico com o professor Carlos,
jovem estudante fazendo faculdade deixava-nos ligadas nas suas aulas.
Aquele jovem alto moreno cabelos castanho-claros levemente crespos,
as mãos grandes  sempre claras coberta pelo fininho pó do giz,
as unhas bem cuidadas, os olhos castanhos sempre a nos olhar fixamente.
O jaleco branco  abaixo dos joelhos  o deixava mais alto ainda.
Provocando nas jovens alunas grandes amores platônicos.
Eu, sempre chegadinha num professor, rachava de estudar pra fazer bonito.
Uma maneira de chamar a atenção daquele pedaço de mau caminho.

Voltando ao dia da prova, cinco questões.
Dividir circunferência em partes iguais,quatro, seis, oito e assim por diante.
Papel de desenho, transferidor, esquadro, compasso, régua, 
borracha, apontador e o  lápis caprichado numa ponta bem fininha.

Estudei tanto, poderia dividir as circunferências de olhos fechados.
Vai daqui vai dali, faltando pouco para terminar minha prova, 
percebi minha amiga de “carteira” Roseli aos prantos,
resmungando chorosa e bem baixinho não consigo.
Rosto e olhos  vermelhos, choro silencioso e incontrolável.
Tamanho sofrimento me tocou, não tinha como passar cola,
tampouco explicar, num ímpeto troquei minha prova com a dela.
Fiz a troca tão brusca, barulhenta e desajeitada,   ops! 
Nesse exato instante o professor Carlos, se virou.
O maior flagrante da minha vida!
A merda estava feita, voltar atrás impossível,
paralisada só esperava que ele retirasse nossa prova.
Ele caminhou até nós, parou por uns segundos,
voltou lentamente para perto do quadro negro.

Silencio mortal, eu antes paralisada, agora tremia.
Passado o choque, continuei a prova da minha amiga no maior carão.
Resolvi  quatro das cinco questões e destrocamos as provas.
A folha de papel pesava muito, era como se segurasse uma batata quente.

Respirei fundo, tentando segurar as mãos e os joelhos, 
que tremiam pra cacete, entreguei minha prova.
Roseli, fez o mesmo, vindo bem atrás de mim,
usando-me  como escudo, para não encarar o professor.
Evitei olhar o jovem mestre nos olhos.
Ufa! Não fomos punidas naquele momento.
Tudo que tínhamos a fazer, aguardar as provas corrigidas.
Podia visualizar um zero bem vermelho enorme e redondo
no cantinho daquela folha de papel.

Na aula seguinte prof. Carlos devolveu-nos as provas, 
propositalmente, entregou as nossas por ultimo.
Roseli  primeiro, nota oito.
Suspense...
Entregou a minha, eu, tão nervosa não consegui desviar o olhar.  
O prof. Carlos deu um sorriso, e disse baixinho:
- “desta vez deixei passa”.
Voltei ao meu lugar nem sei como, os joelhos batiam,
o rosto queimava , sabia, estava vermelha feito um pimentão.
Só depois de estar sentada ao lado da Roseli olhei minha prova,
nota seis e meio, não era o tão temido Zero.
Todas as questões com aquele maravilhoso “C” na cor azul.
Nenhum errinho, uma prova nota dez.
Fui punida, três pontos e meio tirados.

Sempre recordo esse dia se o assunto é "cola",
por mais incrível que pareça foi a minha primeira e única vez.

Bom lembrar, melhor ainda reencontrar velhos  amigos.
Recordar nossos jovens mestres, nossos amores platônicos.



Roseli, não botei seu nome completo, espero que você ainda se lembre.



28 de mar. de 2013

Cleycir.




Merda!
Escrevo e deleto, escrevo e deleto.
O peito apertado de tantas saudades,
Quisera ter o dom das palavras.
Escrever claramente o que me vai na alma.
Escrevo e deleto, escrevo e deleto.

Esquecer que dia é hoje.
Apagar ....
Não lembrar a figura de meu amado.
Tão frágil e de olhar senil, o corpo magro,
o rosto cansado de lutar...
Escrevo e deleto, escrevo e deleto.

Sofrimento!
Estar a teu lado,
Saber tamanha dor te doía.
Calar no peito apertado e dolorido
a certeza da sua eminente partida.
Escrevo e deleto, escrevo e deleto.

Agonia!
A respiração antes ofegante,
aos poucos enfraquecendo,
até o não mais respirar.
Seus olhos fechados,
negando - me um ultimo olhar..
escrevo e deleto, escrevo e deleto.

Desespero!
Minha boca na tua,
Tentativas  em lhe soprar a vida.
Minha alma pedindo pra você voltar
Não deu certo, você não voltou...
escrevo e deleto, escrevo e deleto.

Adeus!
Trancar – me noutro cômodo,
pra não ver você sair carregado.
Era seu corpo sem vida...
Mas ainda era você.
Escrevo e deleto, escrevo e deleto.

Transe!
Recebendo os amigos,
Ultimo adeus.
Escrevo e deleto, escrevo e deleto.

Sorte!
Não ter esquecido,
dor e o sofrimento.
Esqueceria eu tanto amor.
Apagaria da minha memória
Tudo de bom e divertido...
Quero cada dia poder lembrar,
do amor que tive.

Saudades meu amado Cleycir, 
amor pra toda vida, 
e depois também.







18 de jan. de 2013

Rua Guanabara no 40 - FERRAZ DE VASCONCELOS









Rua Guanabara, numero 40. Ferraz de Vasconcelos.
Cenário da minha infância e adolescência.
Testemunha de  tantas  "minhas primeiras vezes”: -
A geladeira e TV, sapato de salto alto, o absorvente higiênico.
Amigas inseparáveis,  inimigas de morte.
A reprovação no colégio, os primeiros amor e beijo,
primeiros cigarro e pileque, primeiro namorado,
amores platônicos e desilusões.
Primeira transa... adeus “virgindade”.

Reencontro velhos conhecidos e amigos.
Os vejo em fotos pequeninas, nas paginas das redes sociais.
Lembranças de Luízes, Osmares, Decos, Veras, Vanias, Suelis, Normas.
Tantos Joses, Pedros, Jorges, Marias, Antonios, Lúcias, Lúcios,
Alices, Alaídes, Reginas, Celias, Emílias, Sonias, Terezas, Cyntias, 
Antonias, Sonias, e por aí adiante...
Gente especial, direta ou indiretamente fizeram parte da minha vida.
Lembranças de uma Ferraz que já não existe...

A estação de trem...
Diariamente de Ferraz com destino Escola Municipal de Poá.
Após vergonhosa reprovação na primeira série,
mamãe me transferiu para colégio em Poá.
Finalmente tomei juízo, e resolvi estudar (mais ou menos).
Quantas vezes íamos direto de Ferraz até Mogi,
em Mogi retomávamos ao nosso destino
no trem dos estudantes. Me pergunto:
Aqueles lindos rapazes, jovens universitários,
prestavam alguma atenção em nós colegiais?

A baliza em sua roupinha de cetim, à frente da fanfarra.
O chapéu especial a botinha de cano longo,
lembrava um soldadinho de chumbo.
Imaginava em meus sonhos, um dia...  eu baliza.
Magrela e desajeitada, só em sonho mesmo...
Nos “14 de outubro”, desfilava de saia azul marinho,
meias ¾,  camisa branca e fita nos cabelos.
Os pelotões de crianças seguiam a fanfarra,
organizada pelos rapazes Aspásio.
a fanfarra seguia a baliza...

A bandinha de flauta doce.
Finalmente eu me livrara do uniforme escolar.
Fiquei linda de saia xadrez em vermelho e preto,
blusinha branca de manguinhas fofas.
Ao ombro um xale do mesmo tecido da saia.
Se não me engano tínhamos pequenas flores nos cabelos.
Lindas escocesas estilizadas.
Ensaiamos muito, até os dedos agirem por conta própria,
independente do nosso nervosismo e ansiedade.
Grande dia! Bem em frente ao palanque da autoridades
a bandinha de flauta doce se apresentou,
“nove de julho pã ra pam pam pam”.♭♪

Baile de debutantes.
... Verinha conversando com minha mãe,
eu escutando quietinha atrás do balcão.
Não lembro se eu queria ou não debutar.
Conversa demorada, acho que a mamãe nem sabia
o que era um baile de debutantes...
Talvez o custo fosse muito alto para as nossas posses.
De qualquer maneira meu pai não permitiria.
Não debutei...

Bailes de Formatura
Acabei debutando num dos muitos bailes de formatura.
Era um tal de empresta, troca e reforma vestidos.
Num desses empréstimos, meu lindo vestido verde,
com decote princesa e saia levemente godê,
nunca mais voltou pro meu armário.
Outro dia vi a garota que “sumiu” com meu vestido,
hoje ela é uma senhora, assim como eu.
Acho que ela nem se lembra mais...
daquele  vestido verde com decote princesa.

Ferraz,  todos se conheciam.
Filho de sicrano irmão de beltrano...
Íamos pra casa de charrete, poucos carros na cidade.
As charretes além dos passageiros levavam
bujões de gás, sacolas da feira ou mercado,
Grandes tapetes enrolados, colchões e pequenas peças de mobília.
Na nossa cidade cada família tinha um comerciante, professor,
funcionário da “LIXA” ou Baxmann ou ainda um bancário.
As moças que trabalhavam no banco,
eram admiradas pelas mocinhas mais jovens.
No trabalho diário atrás dos guichês,
vestidas e maquiadas impecavelmente.

Saudades.
Minha pequena Ferraz de Vasconcelos.
Batizado de bonecas, carrinhos de rolimã, pião e pipa.
O alto falante da praça,  a hora da Ave maria.
Tardes de trabalhos em grupo, aulas de recuperação.
Ensaio de bandas na garagem, Bailinhos pró formatura.
Jogos de futebol... Lanchinho na Padaria do PEPE.
Passeios no “Cambiri”. Festa Junina no colégio.
Eventos no salão da Igreja Católica.
Festa da Uva, com direito a roupa nova.
Bailes na S.A.F.V. 
Ensaios  exaustivos de peças teatrais,
no final das contas, todas as falas improvisadas,
numa única apresentação num orfanato...

Ferraz provinciano
A moça desiludida  anunciando sua ida para um convento,
voltando tempos depois de suas feridas curadas.
A jovem mãe solteira e  a mulher desquitada,
tentando refazer a vida, sob comentários da cidade inteira.
A menina daquela janela, se envolver com um velho babão,
em troca de uns poucos trocados, ou uma roupinha nova.
A linda noiva triste, do casamento arranjado.
Os avós assumindo o neto como seu filho,
protegendo assim a jovem mãe solteira.
Os casamentos realizados apressadamente,
muitos bebês nascendo de sete meses.



1960 / 1970
Se um de nós arriscava um “cigarrinho do capeta”,
nem pensar da mãe ou pai saber.
No dia seguinte o ocorrido já estava na Radio Peão.
Uma experimentadinha já ia pra boca do povo.
Voltar para casa após o horário permitido, sermão e castigo.
Nossos pais mantinham marcação serrada,
rédeas curtas, assim nos "protegiam" dos males do mundo. 
Pais mães, tia e avós; temerosos, inseguros e aflitos,
vislumbrando mudanças anunciadas
naquelas décadas de sessenta e setenta.

Ferraz de nossos amores e desamores,  
de tantos encantos e desencantos.

Saudades da Ferraz de Antigamente.

Saudades da nossa casa na Rua Guanabara nº 40.
Saudades de mim de antigamente...




15 de dez. de 2012

OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM



OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM...


É uma merda sentir - se incomodado com uma situação,
Ouvir alguém dizer :
“os incomodados que se mudem”

certas coisas me incomodam, talvez eu deva  mudar ou me mudar.

Garota bonitinha e arrumadinha levando bolsinha minúscula a tiracolo.
Roupa transada, bolsinha de grife.
Detalhe...
uma sacolinha de papel; amassada, surrada,
deformada e apinhada de coisas, (marmita, guarda-chuva,
chinelo de dedo, pacote de biscoito, chocolate, absorvente higiênico,
anticoncepcional, esmalte, acetona, etc., etc, etc.).
Pergunto: não seria melhor levar uma bolsa bem grande de uma vez?????

Adoro cachorro, agora com o Tiko, mais apaixonada ainda.
Levar cachorrinho pra passear é bom e saudável.
Bicho fazer xixi e cocô fora da casa, melhor ainda.
Custa muito levar um saquinho plástico e papel ,
e recolher o que o bichinho fez?
Qual o quê, bonitinha sai disfarçando no seu passeio,
deixando pra traz uma armadinha malcheirosa...

Bêbado...
tem coisa pior que um cara bêbado falando mole,
rosto vermelho e suado exibindo minúsculas veias,
como se o álcool já tivesse lhe curtido a pele.
 “Filosofando”  próximo ao nosso rosto cuspindo enquanto fala,
te cutucando... perguntando a cada minuto “não é não??”
eu odeio.

Velório... Nada mais triste.
Comovidos até as lagrimas, choramos a perda do momento,
e pelas lembranças de todos os que já perdemos.
Aí... sem mais nem menos, alguém dá chilique.
A irmã do morto que não permite à “ex” prestar sua ultima homenagem;  
ou uma amante até então desconhecida aparece descabelada,
aproveita o momento para revelar os “podres” do falecido,
carregando criança no colo e já falando em DNA,
ou aquela tia velha chorando e se descabelando em desespero,
se jogando sobre o caixão,  deixando todos temerosos.
 E se tudo vir  abaixo  se esparramando no chão,
tia velha, falecido, velas, flores ...
Odeio...

Calçada entupida de gente.
Você caminhando apressada, tentado chegar no trabalho na hora,
Ou voltar pra sua casa em tempo para tantos afazeres.
A sua frente vê um cordão de gente vindo em sua direção,
Numa tranquilidade descompromissada.
Os três ou quatro de mãos dadas, você quer furar aquele muro.
Ninguém abre espaço, melhor sair da calçada, pegar o meio fio...
Sacanagem, odeio.
  
Balconista folgado,
Hora do almoço, você resolve levar um lanche pra casa.
Escolhe o salgadinho paga no caixa.
E espera sair o pacote “pra viagem”.
A balconista pega o salgado caminha lentamente até a mesa,
deposita o salgadinho na bandejinha.
Pedido  três salgados, três vezes ela vai e vem.
Se tiver companhia para o lanche e seu pedido for dez salgados.
Dez vezes e mocinha vai do balcão ate a mesa,
levando calmamente os salgados um a um.
E a “logística”?  
Minha paciência vai pras picas.

Pontualidade...
Pontualidade britânica é pouco pra mim.
Sou extremamente e doentiamente pontual.
Se marco compromisso para sete e quinze,
sete horas estou pronta, sete e dez estou esperando no local combinado.
Conclusão: fico sempre esperando alguém que nunca chega na hora.


Assunto importante a resolver...
Mal você inicia o assunto, a resposta vem como uma chicotada.
"Não quero falar sobre isso agora".
Frustração ! Raiva! 
Gente querendo discutir a relação toda hora, é gente chata.
Por outro lado quem foge da realidade,
se recusando a falar sobre o assunto... é mil vezes pior.

E assim penso, eu deveria mudar,
talvez me mudar pra um sítio, longe da civilização....








9 de nov. de 2012

T A T H I 09/11/79



Trabalhava na Gotthard (Fabrica de lixas em Ferraz).
Cinco anos casados, curtíamos nossa vida a dois.
Não planejamos nem dissemos “Vamos ter filhos”
Como tudo em nossas vidas, as coisas foram acontecendo.
Cley aos vinte e sete anos, eu aos vinte e seis.

Naquele fevereiro de 79 casaram-se Ig e Kel, nossos irmãos.
Cleise, Ivario e Marcos vieram do sul para o casório,
ficaram em nossa casa no Jardim Imperador.
Na falta de quarto de hospedes cedemos nosso quarto ao casal.
Dormimos uns dias num colchão no chão da sala.

Ig e Kel se casaram dia dez de fevereiro. 
Casa pequena hospedes dormindo no quarto ao lado.
Abstinência... 
Dias maravilhosos apesar do nosso celibato temporário.
Visitas foram embora, deixaram saudades.
Eu e Cley pudemos voltar para nosso quarto,
Depois de um meio jejum sexual, não de outra.
Grávidos!

Queria fazer uma surpresa para o Cley.
A mãe de Rita, nossa colega, trabalhava num laboratório,
Tudo combinado, levei o material (xixi),
ela encaminhou o material para análise.
Recebi o exame, POSITIVO, estávamos grávidos.

Tanto cuidado para fazer surpresa pro Cley,
Rita a linguaruda, sabedora do resultado,
Antecipou-se à minha planejada surpresa:
“parabéns papai” 
Perplexo !
Vamos ter um bebê, e ele soube a noticia por uma colega.
Merda...  expliquei, deveria ser surpresa.
E foi mesmo...
Pena, não fui eu a contar, tudo planejado, deu tudo errado.

Gravidez ótima, sem o menor problema.
Visita ao médico não nos agradou, 
momento importante em nossas vidas,
e o Dr. ANTIPÁTICO, orçou aliás ORÇOU.
Muito caro, totalmente fora das nossas possibilidades financeiras.
A ideia era fazer acompanhamento e parto particular.
Não gostamos do médico (muito bem conceituado na região),
Não gostamos do preço...
Minha mãe nos indicou um obstetra de Mogi, Dr. Ismael Guerreiro.
Um anjo enviado pelos céus.
Pré natal, no hospital Mãe Pobre, 
Pré natal pobrinho, sem ultrassom.

Problema nenhum, sentia me em segurança  
sob os cuidados daquele senhor divertido e bem humorado, 
chamava nos, as grávidas, de barrigudas.
Com a ficha na mão parado na porta anunciava:
Eunice do Nascimento Santos Cardoso de Almeida Veloso,
dava-nos no mínimo mais uns oito sobrenomes.

Perguntado quanto cobraria para fazer o parto:
- “se estiver por aqui é só me avisar virei correndo”.

Gravida, trabalhei até sete dias antes do grande dia.
A previsão do médico a partir do dia dez de novembro.
Naquele dia oito de novembro acordei super disposta,
limpei a casa toda, lavei quintal, revisei a maleta para hospital.
Muito inchada, meu nariz parecia um morango gigante.
Mamãe comentou com Cley, fica de olho de hoje não passa.
Dia dez estava chegando, tudo arrumado para ir pro hospital.
Madrugada de nove de novembro, três horas, 
começo sentir uma dorzinha enjoada, não dormi. 
Fiquei quieta para não acordar o Cley.
Cinco horas, não aguentei mais, chamei pelo Cley.
Sono Pesado demorou a me atender. 
Contrações a cada 15 minutos, corre-corre, 
banho com ajuda da mana kel, (ajudou -me lavar os pés).  
Fomos no nosso velho opala verde garrafa, muito confortável.
No hospital, espera, espera, espera, espera o atendimento.
Muita mulher barriguda, barrigas enormes.
Corredor lotado, neném em novembro resultado do carnaval.
Eu e minha barriguinha chinfrim, nem parecia estar na hora.

Contração, estouraram minha bolsa, ficar deitada de lado. 
Nessa hora veio uma dor cortante alucinante.
Contrária a cesária e remédios,
na hora H chorei,  pedi arrego, queeeeeeeero remédio.
Doze horas, sala de parto, na retina a imagem do Cley...
Alívio, Dr. Ismael  estava lá, rosto coberto pela mascara cirúrgica,
via lhe apenas seus olhos redondos.

Aquela força de um bebê empurrando não vinha mais,
Exausta eu tentava, forçava e nada do bebe empurrar. 
Não aguentava mais, escutei a palavra fórceps, o bebê estava virado.
Sentia ser cortada e picotada, não era dor, só o sentir cortar.
Eu já não fazia força, Dr Ismael conversava comigo o tempo todo.
Um puxão como se arrancassem um pedaço de mim.
Tathi chegou às duas horas e vinte minutos daquela tarde de sexta feira.

Diálogo Dr. Ismael e Nice:
Dr.:  acabou, deu tudo certo.     
Nice: acabou nada, ainda falta a placenta.
Dr.:  Faltava, (ploft) vamos costurar.   
Nice:- não vai costurar tudo.
Dr. : Fica tranquila, você ficará novinha em folha...

Assim foi nosso parto, agradeço a Deus mandar-nos um anjo. 
Competente, usou o fórceps, sem causar nenhum dano.
Tathi veio pra nós com um leve arranhãozinho na testa.
Com certeza o bebê mais lindo do mundo.
Já no quaro e pequenina Tathi rodeada de babões.
Miúda, rostinho redondinho, cabeluda. Linda!
Ao saber ter que ficar mais um dia no hospital, chorei .
No domingo dia dez de novembro de 79, chegamos à nossa casa.
Muitas rosas na cor champanhe e balões coloridos.

Dizer tamanho do nosso amor é desnecessário.
Quem é mãe sabe, quem é filho sabe...

Se fosse um menino seria Luiz Guilherme,
Se menina Mariana ou Juliana (minha escolha)
O Pai queria Camila.
Chantageando o Cley,  escolhemos Tathiana,
livro de significado de nomes “A menina do papai”

Sorte sua não homenagearmos o médico,
Já pensou ?  Ismaela.?


5 de out. de 2012

Cãoversa de Pet, Tiko parte I





Meu nome era titico.
Minha nova dona, não gostou, mudou para Tiko.
Motivo: - titico lembra titica de galinha.
Estou de nome novo, casa nova e dona nova,  
embora ela esteja chegando perto dos sessenta anos, (não espalha).
É minha nova dona, cá entre nós, meu faro canino me diz:
"A Nice deve ter um parafuso a menos".

Foi me buscar na loja de pet, onde eu aguardava para adoção.
Não tem nenhuma informação sobre a minha vida noutra casa,
não conto nada, um suspense aumenta o meu carisma.
Olhou-me com carinho assim que me viu, não pensou duas vezes,
fui adotado. Me encheu de mimos, um banho de loja.  
Ganhei duas caminhas, uma azul escura (cama de macho), 
outra preta toda estampada de caveirinhas (sinistro), duas roupinhas; 
uma vermelha estampada de patas de cachorro, (pijaminha nas noites frias),
outra com estampa xadrez e com capuz (ela pensa que vou usar capuz), 
um pacotão de ração, uns bastonetes para limpar meus dentinhos, odiei, 
tapetinhos descartáveis pra eu fazer xixi e cocô, e alguns brinquedinhos.
Tinha um patinho amarelo que eu adorava, mas já detonei.
Ela ficou apavorada achando que comi um pedaço do brinquedo,
examinou meu cocozinho procurando o rabo e o bico do patinho.
Só sossegou depois que percebeu que não tive diarreia.

Nice sai cedo para o trabalho, levanta prepara minha ração.
Aí começa um irritante abre e fecha de portas, vai pra lá e pra cá,
fico doidinho pra entrar no quarto, na sala de TV e no banheiro.
Não consigo, ela fecha as portas e diz FICA. Já aprendi, se ela diz FICA,
fico paradinho quietinho, olhando com meu olharzinho numero um.
Se me ameaça com o chinelo dizendo Vá deitar, corro e me aninho
na caminha ou embaixo do armário, no meu cantinho preferido,
fico um tempinho escondido,  fazendo me de magoado.
Espero ela se acalmar ou esquecer a minha travessura.

Ela fala o tempo todo: me chama de bunitinho, 
erra meu nome me chamando por Kiko, se refere a mim dizendo ELA.
Vive me mostrando o tapetinho dizendo “xixi aqui”, aprendi, 
quase sempre vou no lugar certo, às vezes tem visita na casa, 
pra marcar meu território faço noutro lugar, Nice fica brava e dá bronca.
Xixi eu faço direitinho, mais cocô ainda não entendi onde é pra fazer,
cheiro aqui cheiro ali, faço perto do meu banheirinho, mal terminei
ela já vem com papel toalha e desinfetante, dá um fim no meu cocozinho.

Falando em marcar território, isso aqui virou um cabo de guerra.
É da minha natureza demarcar meu espaço, (sou um macho alfa),
por outro lado, a Nice deixa bem claro as regras da casa, 
vive  limpando o chão com desinfetante, água sanitária e álcool perfumado,  
au au au, vou ficar com rinite. Espirro, escorrego no chão úmido,
não tem jeito, a tarada do rodo e pano de chão ataca todos os dias.

O apartamento é gostoso, sempre limpinho.
Tomo conta de tudo enquanto minha dona fica fora. 
Ao chegar corre os olhos por tudo pra ver se tem algo fora do lugar, 
boba, arrumo tudinho antes que ela retorne.
Abre a porta, faço a maior festa, pulo bem alto, meu coração dispara.
A Nice me agrada dizendo “calma já cheguei, para de pular”.
Teme que eu tenha um ataque cardíaco, tão forte meu coração bate. 

Mal chega em casa começa a operação pano de chão, maquinas de lavar,
televisão, micro-ondas, TV ligada, torneira aberta. É muito barulho... 
Serve minha ração no potinho, limpa a casa, vai pro fogão, pra pia.

Come a ração dela, que é bem mais cheirosa e apetitosa que a minha.
Termina suas tarefas, vamos para a sala ver TV.
Ela vê TV, escreve, atende telefone e ainda joga "games".
Se ela estica as pernas no puf, deixando à mostra os "crocs" cor-de-rosa,
não adianta eu pedir carinho, espero dou um tempo... espero...
Vou chegando perto, faço carinho com minhas patinhas, ate ganhar cafune.
se o agrado para, continuo pedindo carinho, é muito bom.
Aproveita que estou perto e escova meu pelo delicadamente.
Sempre falando, falando, falando e falando.

Fico sempre por perto, na minha caminha cochilando, roendo meu ossinho.
Ela se levanta do sofá, vou correndo atrás xeretando,
percebo ela ir pra lá e pra cá, só pra ver eu ir atrás.
Á noite faz de tudo pra eu ir pro meu quarto (arrumado na lavanderia), 
me escondo, finjo dormir, ela sempre me engana... e eu vou pra caminha.
Antes de fechar o portãozinho, me faz um carinho, apaga as luzes e sai.
Hora de dormir, pra dia seguinte começar tudo de novo...

Sei que ela já gosta muito de mim, eu também gosto dela.
Sou muito bunitinho, faço tudo para agradar.
Minha vida é boa, tenho alguém pra eu cuidar e amar.
Acredito, esse é o início de uma grande amizade.

ps. Nice põe ração no meu potinho, mas o deixa encostado na parede, 
com minas patinhas, puxo e ajeito a tigelinha pra perto de mim.
ela já percebeu, encosta a tigelinha na parede, só pra ver eu puxar.
Ela adora ver que cachorrinho esperto sou.

Família, Nice tem uma filha, a Tathi.
Sempre vem à nossa casa, ela também já está apaixonada por mim.

um segredo, Nice e Tathi morrem de medo que eu as morda,
de vez em quando dou um sustinho nelas. 

Tenho que ser cuidadoso.
Manter em segredo meu envolvimento sexual com a blusa bege de lã.
Nice já me surpreendeu  umas duas vezes, parei na hora.
Me preocupa muito ter ouvido uma palavra horrível
CASTRAR... (au au au au au au au au au au).

1 de out. de 2012

TITICA DE GALINHA




foto de  http://elo7.me/TTgfyH

Tenho saudades:

Pudim de leite condensado que a Tia Inha fazia,
clarinho bem macio, a perfeita calda de caramelo,
entrando pelos furinhos do pudim, delicioso!
Não existe nada igual.

Saudades...
Da enorme bagunça na varanda da nossa casa em Ferraz.
O pai ralando milho, a mãe coando milho para fazer curau.
No fogão, um cadeirão com água fervendo para cozinhar as pamonhas.
Nós os menores abrindo a palha com cuidado para não rasgar,
transformando nossa tarefa em brincadeira.
Ao término, sair com os braços coçando de tanto rolar na palha.
Era um exagero, tudo era grande, panelas bacias, a colher de pau.
Depois de tudo pronto a vizinhança e nossos familiares,
ganhavam uma boa porção de curau e pamonha. 
Até hoje sou doidinha numa pamonha bem rustica cozida a palha.

Saudades...
Sair no quintal jogar milho para as galinhas, catar os ovos de cascas escuras e gema de amarelo bem forte. Olhar cada cantinho, atenta pra a qualquer momento ter que fugir de um galo garnisé bipolar, morador   do nosso quintal, pequenino e invocado se achava o rei da cocada preta.  
Entrar no cercado das galinhas, mesmo tomando todo cuidado, acabar com o calcanhar borrado de titica, lavar os pés no tanque de lavar roupas.
Uma aventura.

Em Ferraz nossa casa era pequena, com um quintal enorme.
O pai sempre “inventava”, uma ocupação para suas horas de folga.
Nos fundos do quintal um cômodo que chamávamos de quartinho.
A edícula abrigou parentes em momentos de dificuldade.
Foi quarto de despejo, onde se guardava de tudo;
ferramentas, moveis velhos, botijão de gás, latas de tinta, madeira, etc.
Um verdadeiro quarto de bagunças.

Meu pai o transformou numa chocadeira gigante.
Um balcão de madeira foi adaptado, lugar para os ovos, muitas lâmpadas.
Não sei como ele conseguiu a temperatura ideal.
Aproximados vinte dias depois, uma enorme quantidade de pintinhos amarelos e rebolantes, apareceram das cascas dos ovos.
Pra tanto pinto providenciar um galinheiro novo, o cercado ficou pequeno.
Os pintinhos eram tratados com farelo bem miudinho,
dezenas de boluchinhas amarelas, pipocando no cercadinho de tela fina.
Ao se transformarem em frangos, iam para o galinheiro,
e atingindo peso e idade ideal,  iam pra panela. 
Nunca comemos tanta carne de frango como naqueles tempos.

Tempo lembra temporal, dezenas de franguinhos no galinheiro.
Desaba um temporal daqueles de fim do mundo.
Corre - corre no quintal, a mãe com bacia, mil toalhas velhas, socorrendo e secando os franguinhos ensopados de água de chuva, barro e titica.
Com ajuda de nossa vizinha Dna. Maria, enxugavam os bichos e os botava no quartinho, com  todas as luzes da chocadeira acesas, o velho quartinho ficou quentinho,  ali os franguinhos foram salvos da morte prematura.
O mais bizarro era minha mãe enrolando os menores em panos velhos, arrumando os numa bacia e colocando no forno levemente aquecido, os bichinhos tremiam de dar pena. Pior era o cheiro de frango molhado, eca!
Muitos foram salvos, cresceram engordaram e... foram parar na panela.  
Melhor sorte tiveram as meninas, sobreviveram por mais tempo,
comeram muito milho e puseram muitos ovos, ciscaram muito quintal.
Até que um dia pai e mãe decidiram acabar com o galinheiro,
as senhoras galinhas foram pra panela de pressão.

Se alguém achar que nada disso aconteceu, tenho testemunhas a meu favor, cada detalhe é verdadeiro, aquela noite foi uma verdadeira maratona, poucos frangos morreram. Ao lembrar a luta para salvar os frangos, acho muito engraçado, penso nos meus pais, mesmo sabendo que mais tardem os frangos seriam mortos, pendurados no varal para escorrer o sangue.
E depois iriam para a panela.
Não deixaram que os bichos morressem daquela maneira trágica,
Tremendo de frio encharcados de lama e titica.
Acabou a historia,  iniciada com pudim de leite condessado,
e finalizada com titica de galinha.

24 de set. de 2012

3 de outubro, Niver da mamãe


           

Dia três de outubro seria aniversário de minha mãe.
Tempos atrás não imaginava um aniversário sem ela ao nosso lado.
O que não tem remédio, remediado está.
assim falava minha mãe e a mãe de minha mãe,
um dia minha filha repetirá a mesma frase.
         
Quero falar de minha mãe sem me entristecer,
É fato: o que não tem remédio, remediado está.
Tentar escrever coisas do dia a dia, sem pieguices ou tristezas.
Apenas lembranças.

Por esses dias lavei meus sapatos “melissa” no chuveiro,
deixei – os no box secando, os sapatos secaram, não os guardei.
Sábado dia de faxina, entrei no banheiro e lá estavam meus sapatos,
um em pé encostado na parede o outro pé virado com a sola pra cima,
Meu impulso ir desvirar sapato, parei, não precisava...
minha mãe já morreu, não vai morrer de novo...
Posso imaginar minha mãe rindo da minha atitude.

Por outro lado estou liberada livre e solta:-
Tranquilamente abrir o guarda chuva dentro de casa,
deixar todos os sapatos virados com a sola pra cima,
e se me der na telha posso andar pra trás.
Seria taxada de doida, e daí?
Uma coisa é certa, não há risco de minha mãe morrer.

Ninguém morre duas vezes,
Quem aguentaria a dor de perder duas vezes alguém tão amado.
Mas olhando por outro lado....
Um facínora odioso e impiedoso poderia morrer duas vezes !?!?!?
Pena de morte vezes dois para roubo seguido de morte.
Pena de morte vezes três para crimes hediondos.
Pena de Morte vezes cinco para crimes contra humanidade.
E assim por diante...
Não questione como morrer mais de uma vez.
Pensamentos insanos são assim.
Não tem manual, nem bula.

Sento para escrever, tenho uma ideia inicial.
Logo outra historia vai aparecendo.
E sem que eu perceba, já tomei outro rumo.
O assunto mudou, é como se já estivesse pronto,
só a espera de um gatilho para sair,
independente dos meus planos.

Tentei retomar com pequenas historias.
Como dizem, uma coisa puxa outra...
Nesse momento lembrar minha mãe é:

Varrer a casa sem deixar lixinhos nos cantinhos.
o diabo gosta de casa suja.
Esperar uma hora ou mais após a refeição para ir pro chuveiro.
muita gente já morreu disso.
Beijar o pão, antes de jogar fora.
(mesmo se tiver bolor beijo antes de jogar).
Se a visita é chata, vassoura atrás da porta.
Em hipótese alguma deixar a bolsa no chão.
(pra disfarçar a superstição, ela dizia “pra não estragar a bolsa”).
Quem brinca com fogo, faz xixi na cama.
Orelha esquerda ardendo, alguém falando mal de você.
Relógio quebrado, é atraso de vida.
Quebrar espelho, sete anos de azar.

Dentre tantas crendices e superstições,
A mamãe tinha pavor de temporais:
Sua cunhada Luzia (minha tia, irmã de meu pai)
Morreu aos quinze anos atingida por um raio.
Em dias de temporais, era lei na nossa casa
cobrir com lençóis ou toalhas, todos os espelhos.
Não tínhamos muito espelhos, mas todos eram cobertos,
até aqueles que ficavam no fundo da cristaleira.
Não andar descalça pela casa, para os pés não grudar no chão.
De maneira alguma usar facas, tesouras ou agulhas,
qualquer coisa de metal era proibido.
todas essas coisas atraem raios.

Saudades das tardes de temporais, mamãe eu e minhas irmãs, 
empoleiradas na cama do casal ou no sofá da sala,
esperando a tempestade passar, a chuva acabava.
Medo deve dar fome, pois a mãe ia preparar um lanche.
As vezes uma pipoca bem quentinha.

Viver com minha mãe foi muito bom, muitas lições de vida e coragem.
Algumas superstições e costumes, carrego comigo.
Muitas vezes, revejo minha mãe em mim.
Numa frase feita, uma situação boba e corriqueira,
Tantas vezes escuto minha voz, e reconheço a semelhança.
Reconheço - a em minhas irmãs, e ate na minha filha Tathi.
partes de minha mãe continua viva em nós.
A mãe diria que somos farinha do mesmo saco.

Quando a vida vira uma bagunça, sinto que estou perdendo o rumo.
Em dias de grande tempestade, aflita,
também tenho medo de raios e trovões,
alem do pavor infantil que tenho do escuro.
Me aconchego naquela cama ou no sofá quentinho.

E espero o temporal passar...

Depois do temporal,
nada melhor que pipoca quentinha ou bolinho de chuva.
E boas lembranças para aquecer a alma.










4 de set. de 2012

UM CAPETA EM FORMA DE "GURI"

Kel, não resisti. (perdão)  

Passagens da nossa infância são revividas no dia a dia.
Meu pai não era o protótipo de paizão, muito pelo contrario.
Também não é novidade, tenho boa memória para os tempos idos.
Até me surpreendo “a mim mesma”.
Da convivência na infância com meu pai, poucas lembranças.
Memórias vagas e fragmentadas,
Quase não o víamos, saía muito cedo para o trabalho,
Voltava, imagino morto de cansaço, já estávamos dormindo.
(naquele tempo criança jantava cedo e ia pra cama).

Na sala com meu pai, observo um entra e sai do quarto,
uma mulher levando bacia com água fervente e toalhas.
Eu, curiosa, sentada nos joelhos de meu pai, esperando,
ele me disse algo, não recordo o assunto.
Menina de quatro anos, atenta tentando espiar o quarto.
Os ruídos e conversas do quarto ao lado vinham abafados.
Quanto tempo ficamos ali, não sei.

Escutei um choro forte, a porta antes encostada, se abriu
deixando passar uma senhora morena e  gorducha, trazendo um pacotinho.
Jamais esqueci o rostinho redondo e rosa claro, a boquinha carnuda,
o cobertorzinho que enrolava firme a nova integrante da família, Raquel.
Assim como dos outros filhos, escolheram um nome bíblico.
Eunice, Israel, Léa e Raquel. (o menino sobreviveu apenas meses).
Se não me engano na Bíblia não tinha Léa, mas sim Lia.
Enfim uma pequena diferença.
Raquel, nome forte para um bebê pequenino, nós a chamamos de Kel,
não Quel.

Criança voluntariosa, caçulinha mimada pelas irmãs mais velhas.
Se contrariada, podíamos nos preparar, vinha pra cima feito boi bravo.
a caçula sempre levava vantagem, "deixa ela" é pequena,
alguém dizia, (pobres irmãs mais velha e do meio).

Eu, irmã mais velha, diariamente as levava à pré escola,
ficava do lado de fora no play ao alcance dos olhos das meninas,
Sabendo - me ali fora esperando, elas não choravam pra voltar à casa.
Reclamavam de um garoto, era eu quem dava pegas nos meninos.

Dizer o quanto amo minhas irmãs, é dispensável.
Hoje não estou aqui para falar de amores,
mas sim das peripécias de Kel a terrível.
“Correndo grande risco, gosto de viver perigosamente”.

Aos oito anos
Kel foi pega com uma amiguinha fumando no banheiro do colégio.
Nessa época vendia todas as embalagens de vidro do estoque de meu pai, 
litros de leite, garrafas de cerveja, acredito que até retalhos de fios de cobre,
que meu pai guardava enroladinho, ela vendia.
O homem do ferro velho devia adorar...
Pega no flagra, disse que era para comprar doces, será?????
De certo comprava doces, peças para fazer carrinhos de rolimã,
tecidos para um vestido novo. .. Assim por diante.
Se você tem a minha idade deve estar lembrando uma musica:
Co – nhe - ci  um capeta em forma de guri, a própria kel, era isso mesmo.

Falei de meu pai, agora lembrar um assunto que amarre Kel e Pai.
É sabido meu pai era homem severo; descia o braço, o fio de ferro e o cinto,
muitas vezes ficávamos com as pernas e as costas marcadas.
Por sorte usávamos meias três quartos...
Kel numa dessas ocasiões tomou uma foto do pai, com caneta esferográfica 
desenhou chifres  na testa e as sobrancelhas num ângulo quase reto.
A obra de arte deu ao nosso pai aparência demoníaca. 
Infelizmente assim nós o víamos, estava claro para nós, não pra ele.
Matuto do interior, seu entendimento daquele desenho fazia alguma alusão
à fidelidade conjugal de minha mãe.
E o homem que se achava corno nos encheu de porrada.
Levamos a maior surra, o pai queria saber quem fizera aquilo.
A única coisa que eu tinha certeza, não fui eu. Poderia, mas não o fiz.
Juramos inocência de pés juntos. Uma de nós jurou em falso.
Fomos saber que a artista era a Kel recentemente.

Pra dizer a verdade não tenho plena certeza ter sido ela.
Minha irmã as vezes, confunde as memórias.
Para a criminosa não ficar impune, nós três fomos castigadas.
Provavelmente quem mais se ferrou foi minha mãe.
Não sei como ela explicou "que era arte de de criança".
Creio que no íntimo mamãe se divertiu com aquela foto.

Mas não se preocupem. Kel não foi para FEBEM, na adolescência.
Nunca participou de assaltos a bancos ou lojas de departamentos.
Provavelmente "ganhou" alguns chocolates.
Apesar das diabruras da infância,
tornou - se uma mulher, generosa. Num corpo miúdo e frágil.
Perdeu um pouco daquela ousadia da infância.
É uma irmã querida e muito presente.
Diariamente me chama ao telefone.
Algumas vezes me acorda só pra dizer boa noite.

Ps. Léa não fique com ciúmes, prometo uma historinha só pra você.