23 de set. de 2011

ORATORIO



Na minha infância, meus pais eram evangélicos (uma doutrina muito rígida), até para a década de 60. Era proibido, cortar os cabelos, usar maquiagem, ter imagens de santos, beber, fumar, sexo antes do casamento e por aí vai uma lista enorme.                                            Muito me incomodava, ver as mulheres com seus cabelos enormes, (chegavam até a bunda),  pernas cabeludas cobertas por saias enormes, e o pedaço que se via de perna, era coberto  pela penugem amassada pela meia fina de nylon, (uma visão do inferno). Por sorte minha mãe dava um jeitinho, para que o nossos cabelos não passassem da altura dos ombros, também aprendemos usar “Gilette”, muitas  vezes resultava em alguns cortinhos.
Passando da infância para a adolescência, (anos 70), Aí era dureza...  Todas as meninas do colégio usavam saias (azul marinho pregueada) três dedos acima dos joelhos, eu e minhas irmãs (as de sangue e as da igreja) usávamos nossas saias quatro dedos “abaixo dos joelhos”. Tínhamos uma técnica especial, assim que saíamos do alcance dos olhos de nosso pai (pai aqui da terra), enrolávamos duas ou três vezes o coz (cintura) da saia e como num milagre de Deus, as saias encurtavam, a técnica era boa, mas tínhamos que ficar atentas, para  parte da cintura não desenrolar e a saia ficar  torta.  
 Todo esse papo, para falar do assunto religião. Eu detestava ser evangélica, aquela doutrina rígida, conflitava muito com minha alma livre. Lembro que nosso colégio era vizinho da igreja católica da cidade, em dias de provas e exames todos iam a igreja rezar. Eu também ia, não sabia rezar o Pai Nosso nem a ave – Maria, era meio estranho tantas imagens, que para mim pareciam gigantescas. Mas eu me sentia bem, era bem mais católica que evangélica.
 Com o Cley, conheci outra igreja, aos 23 anos me tornei Lutherana, igreja evangélica, (por ser a primeira a se separar da Igreja católica), tinha um grande diferencial das igrejas evangélicas que eu conhecia. E algumas semelhanças com a Católica (que tanto me encantava). 
Nada mais era proibido, podia tomar minha cervejinha, ir ao cinema, ter TV em casa, usar mini saia, dançar. Enfim, tudo que faz bem e nos deixa feliz.    
Nos períodos de grande tristeza, ao enfrentar problemas (momentos pelos quais todos nós passamos, mais dia menos dia). A oração apenas não me bastava, era muito Pai Nosso muita Ave Maria, e ainda faltava algo; acendia  vela,  levava comigo um tercinho.
Me sentia “culpada”, parecia que meu pai o Sr. Joaquim me olhava e censurava, e todos os Lutheranos do mundo também. Conversando com minha cunhada – irmã (ela é catequista, esposa e mãe de Pastor), Ela disse: muitas vezes, principalmente em momentos de grande sofrimento, sentimos que só a nossa Fé não é o bastante, precisamos de algo   paupável, Isso tranqüilizou meu coração Lutherano  (com um pedacinho católico).
A algum tempo tenho em  casa, junto a foto do Cley (lutherano e foi coroinha quando criança)meu  “tercinho”,  tão delicado e discreto com aquele pequenino crucifixo pendurado.
Ontem coloquei um oratório, (sem culpa nenhuma),
é a parte da minha Fé que posso ver.  
Um lugar para todas as manhãs  pedir
a "Deus que me acompanhe, e me cuide"
O oratório da foto foi pintado pela Karen Lee,
uma jovem artesã, que a meu pedido,
o fez como os do norte e nordeste, em cores fortes e vibrantes.

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