Feriado, eu planejava dormir bastante, esqueci de desligar o alarme que me acorda todos os dias. Acordei as sete, tempinho vendo TV olho pro relógio, oito horas. Já tomei meu café com leite e o pão com manteiga, que adoro.
Sexta feira Santa ou como dizia meu avo Antônio, sexta feira GORDA.
Hoje as lembranças vem à minha cabeça como se fossem pequenos retalhos.
Preparar um peixe, o bacalhau nunca foi nosso peixe favorito.
Cley preparava um assado, com molho de alcaparras com muito azeite.
acompanhado de batatas cozidas. Uma delícia!
Eu farei algo mais simples.
Minha mãe preparava uma salada de batatas cozidas com bacalhau desfiadinho,
muitas azeitonas pretas, rodelas de cebolas e uma quantidade generosa de azeite.
Era muito gostosa com arroz branquinho e salada verde.
Se estava inspirada, saía também um bolinho de bacalhau.
Sexta feira Santa fico meio triste.
Na TV um filme da paixão de Cristo, tanto sofrimento me abate.
Pergunto-me por que os filmes terminam na ressurreição,
o ideal seria mais uns quinze minutos de filme,
pra gente se alegrar com o renascimento.
Assim meio caída, lembro outras sextas, volto para Ferraz, sou criança.
Recordo o Sr. João Delatorre, encenando a paixão de Cristo.
Era triste mas fantástico.
Na verdade não sei ao certo se vi o Sr. João representando Cristo,
ou se imagino... Comentavam a beleza que era a atuação dele.
Lembro aquela foto no galpão atrás do bar da família Delatorre,
O Sr João Caracterizado de Cristo.
Era a primeira coisa que via quando entrava naquele pequeno salão.
Os antigos, meus avós e seus pais, não faziam nenhum trabalho na sexta gorda,
jejuavam. Mas como jejuavam? Todo mundo comia peixe.
Menina, eu sem muito saber das coisas,
achava que jejuar era sinônimo de comer peixe.
Jejuar nunca jejuei, mas a alma faz um tipo de jejum, uma tristeza abate.
Impossível não lembrar com tristeza o Jesus que sofre com a fome nesse mundo,
o que tomba em guerras e atentados. O Jesus morto aos 11 de setembro,
outubro novembro, dezembro e noutros meses do ano.
Jesus morto nos porões da ditadura verde amarela e tantas outras bandeiras.
Jesus morto no cumprimento do dever, Jesus que morre nas estradas.
Jesus de doenças incuráveis. Jesus diariamente discriminado e excluído.
Sexta feira Santa é um dia para refletir...
O Jesus na TV, no cinema filmes a nos lembrar do seu sofrimento.
Não olhei na programação da TV, provável que tenha um filme.
Já vimos todos, os primeiros não lhe mostrava o rosto.
O pobre ator nunca aparecia em close, era sempre de costas,
Víamos apenas seus cabelos longos e alourados.
O primeiro filme a mostrar o rosto dele foi Reis dos Reis de 1961.
Depois tantos outros filmes. Muitos foram considerados como blasfêmia.
Se hoje achar o filme “A ultima tentação de Cristo” assisto,
de todos, desse eu gosto muito, na época gerou muita polêmica.
Me agrada muito ver na tela um Jesus muito à nossa semelhança.
