15 de dez. de 2012

OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM



OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM...


É uma merda sentir - se incomodado com uma situação,
Ouvir alguém dizer :
“os incomodados que se mudem”

certas coisas me incomodam, talvez eu deva  mudar ou me mudar.

Garota bonitinha e arrumadinha levando bolsinha minúscula a tiracolo.
Roupa transada, bolsinha de grife.
Detalhe...
uma sacolinha de papel; amassada, surrada,
deformada e apinhada de coisas, (marmita, guarda-chuva,
chinelo de dedo, pacote de biscoito, chocolate, absorvente higiênico,
anticoncepcional, esmalte, acetona, etc., etc, etc.).
Pergunto: não seria melhor levar uma bolsa bem grande de uma vez?????

Adoro cachorro, agora com o Tiko, mais apaixonada ainda.
Levar cachorrinho pra passear é bom e saudável.
Bicho fazer xixi e cocô fora da casa, melhor ainda.
Custa muito levar um saquinho plástico e papel ,
e recolher o que o bichinho fez?
Qual o quê, bonitinha sai disfarçando no seu passeio,
deixando pra traz uma armadinha malcheirosa...

Bêbado...
tem coisa pior que um cara bêbado falando mole,
rosto vermelho e suado exibindo minúsculas veias,
como se o álcool já tivesse lhe curtido a pele.
 “Filosofando”  próximo ao nosso rosto cuspindo enquanto fala,
te cutucando... perguntando a cada minuto “não é não??”
eu odeio.

Velório... Nada mais triste.
Comovidos até as lagrimas, choramos a perda do momento,
e pelas lembranças de todos os que já perdemos.
Aí... sem mais nem menos, alguém dá chilique.
A irmã do morto que não permite à “ex” prestar sua ultima homenagem;  
ou uma amante até então desconhecida aparece descabelada,
aproveita o momento para revelar os “podres” do falecido,
carregando criança no colo e já falando em DNA,
ou aquela tia velha chorando e se descabelando em desespero,
se jogando sobre o caixão,  deixando todos temerosos.
 E se tudo vir  abaixo  se esparramando no chão,
tia velha, falecido, velas, flores ...
Odeio...

Calçada entupida de gente.
Você caminhando apressada, tentado chegar no trabalho na hora,
Ou voltar pra sua casa em tempo para tantos afazeres.
A sua frente vê um cordão de gente vindo em sua direção,
Numa tranquilidade descompromissada.
Os três ou quatro de mãos dadas, você quer furar aquele muro.
Ninguém abre espaço, melhor sair da calçada, pegar o meio fio...
Sacanagem, odeio.
  
Balconista folgado,
Hora do almoço, você resolve levar um lanche pra casa.
Escolhe o salgadinho paga no caixa.
E espera sair o pacote “pra viagem”.
A balconista pega o salgado caminha lentamente até a mesa,
deposita o salgadinho na bandejinha.
Pedido  três salgados, três vezes ela vai e vem.
Se tiver companhia para o lanche e seu pedido for dez salgados.
Dez vezes e mocinha vai do balcão ate a mesa,
levando calmamente os salgados um a um.
E a “logística”?  
Minha paciência vai pras picas.

Pontualidade...
Pontualidade britânica é pouco pra mim.
Sou extremamente e doentiamente pontual.
Se marco compromisso para sete e quinze,
sete horas estou pronta, sete e dez estou esperando no local combinado.
Conclusão: fico sempre esperando alguém que nunca chega na hora.


Assunto importante a resolver...
Mal você inicia o assunto, a resposta vem como uma chicotada.
"Não quero falar sobre isso agora".
Frustração ! Raiva! 
Gente querendo discutir a relação toda hora, é gente chata.
Por outro lado quem foge da realidade,
se recusando a falar sobre o assunto... é mil vezes pior.

E assim penso, eu deveria mudar,
talvez me mudar pra um sítio, longe da civilização....








9 de nov. de 2012

T A T H I 09/11/79



Trabalhava na Gotthard (Fabrica de lixas em Ferraz).
Cinco anos casados, curtíamos nossa vida a dois.
Não planejamos nem dissemos “Vamos ter filhos”
Como tudo em nossas vidas, as coisas foram acontecendo.
Cley aos vinte e sete anos, eu aos vinte e seis.

Naquele fevereiro de 79 casaram-se Ig e Kel, nossos irmãos.
Cleise, Ivario e Marcos vieram do sul para o casório,
ficaram em nossa casa no Jardim Imperador.
Na falta de quarto de hospedes cedemos nosso quarto ao casal.
Dormimos uns dias num colchão no chão da sala.

Ig e Kel se casaram dia dez de fevereiro. 
Casa pequena hospedes dormindo no quarto ao lado.
Abstinência... 
Dias maravilhosos apesar do nosso celibato temporário.
Visitas foram embora, deixaram saudades.
Eu e Cley pudemos voltar para nosso quarto,
Depois de um meio jejum sexual, não de outra.
Grávidos!

Queria fazer uma surpresa para o Cley.
A mãe de Rita, nossa colega, trabalhava num laboratório,
Tudo combinado, levei o material (xixi),
ela encaminhou o material para análise.
Recebi o exame, POSITIVO, estávamos grávidos.

Tanto cuidado para fazer surpresa pro Cley,
Rita a linguaruda, sabedora do resultado,
Antecipou-se à minha planejada surpresa:
“parabéns papai” 
Perplexo !
Vamos ter um bebê, e ele soube a noticia por uma colega.
Merda...  expliquei, deveria ser surpresa.
E foi mesmo...
Pena, não fui eu a contar, tudo planejado, deu tudo errado.

Gravidez ótima, sem o menor problema.
Visita ao médico não nos agradou, 
momento importante em nossas vidas,
e o Dr. ANTIPÁTICO, orçou aliás ORÇOU.
Muito caro, totalmente fora das nossas possibilidades financeiras.
A ideia era fazer acompanhamento e parto particular.
Não gostamos do médico (muito bem conceituado na região),
Não gostamos do preço...
Minha mãe nos indicou um obstetra de Mogi, Dr. Ismael Guerreiro.
Um anjo enviado pelos céus.
Pré natal, no hospital Mãe Pobre, 
Pré natal pobrinho, sem ultrassom.

Problema nenhum, sentia me em segurança  
sob os cuidados daquele senhor divertido e bem humorado, 
chamava nos, as grávidas, de barrigudas.
Com a ficha na mão parado na porta anunciava:
Eunice do Nascimento Santos Cardoso de Almeida Veloso,
dava-nos no mínimo mais uns oito sobrenomes.

Perguntado quanto cobraria para fazer o parto:
- “se estiver por aqui é só me avisar virei correndo”.

Gravida, trabalhei até sete dias antes do grande dia.
A previsão do médico a partir do dia dez de novembro.
Naquele dia oito de novembro acordei super disposta,
limpei a casa toda, lavei quintal, revisei a maleta para hospital.
Muito inchada, meu nariz parecia um morango gigante.
Mamãe comentou com Cley, fica de olho de hoje não passa.
Dia dez estava chegando, tudo arrumado para ir pro hospital.
Madrugada de nove de novembro, três horas, 
começo sentir uma dorzinha enjoada, não dormi. 
Fiquei quieta para não acordar o Cley.
Cinco horas, não aguentei mais, chamei pelo Cley.
Sono Pesado demorou a me atender. 
Contrações a cada 15 minutos, corre-corre, 
banho com ajuda da mana kel, (ajudou -me lavar os pés).  
Fomos no nosso velho opala verde garrafa, muito confortável.
No hospital, espera, espera, espera, espera o atendimento.
Muita mulher barriguda, barrigas enormes.
Corredor lotado, neném em novembro resultado do carnaval.
Eu e minha barriguinha chinfrim, nem parecia estar na hora.

Contração, estouraram minha bolsa, ficar deitada de lado. 
Nessa hora veio uma dor cortante alucinante.
Contrária a cesária e remédios,
na hora H chorei,  pedi arrego, queeeeeeeero remédio.
Doze horas, sala de parto, na retina a imagem do Cley...
Alívio, Dr. Ismael  estava lá, rosto coberto pela mascara cirúrgica,
via lhe apenas seus olhos redondos.

Aquela força de um bebê empurrando não vinha mais,
Exausta eu tentava, forçava e nada do bebe empurrar. 
Não aguentava mais, escutei a palavra fórceps, o bebê estava virado.
Sentia ser cortada e picotada, não era dor, só o sentir cortar.
Eu já não fazia força, Dr Ismael conversava comigo o tempo todo.
Um puxão como se arrancassem um pedaço de mim.
Tathi chegou às duas horas e vinte minutos daquela tarde de sexta feira.

Diálogo Dr. Ismael e Nice:
Dr.:  acabou, deu tudo certo.     
Nice: acabou nada, ainda falta a placenta.
Dr.:  Faltava, (ploft) vamos costurar.   
Nice:- não vai costurar tudo.
Dr. : Fica tranquila, você ficará novinha em folha...

Assim foi nosso parto, agradeço a Deus mandar-nos um anjo. 
Competente, usou o fórceps, sem causar nenhum dano.
Tathi veio pra nós com um leve arranhãozinho na testa.
Com certeza o bebê mais lindo do mundo.
Já no quaro e pequenina Tathi rodeada de babões.
Miúda, rostinho redondinho, cabeluda. Linda!
Ao saber ter que ficar mais um dia no hospital, chorei .
No domingo dia dez de novembro de 79, chegamos à nossa casa.
Muitas rosas na cor champanhe e balões coloridos.

Dizer tamanho do nosso amor é desnecessário.
Quem é mãe sabe, quem é filho sabe...

Se fosse um menino seria Luiz Guilherme,
Se menina Mariana ou Juliana (minha escolha)
O Pai queria Camila.
Chantageando o Cley,  escolhemos Tathiana,
livro de significado de nomes “A menina do papai”

Sorte sua não homenagearmos o médico,
Já pensou ?  Ismaela.?


5 de out. de 2012

Cãoversa de Pet, Tiko parte I





Meu nome era titico.
Minha nova dona, não gostou, mudou para Tiko.
Motivo: - titico lembra titica de galinha.
Estou de nome novo, casa nova e dona nova,  
embora ela esteja chegando perto dos sessenta anos, (não espalha).
É minha nova dona, cá entre nós, meu faro canino me diz:
"A Nice deve ter um parafuso a menos".

Foi me buscar na loja de pet, onde eu aguardava para adoção.
Não tem nenhuma informação sobre a minha vida noutra casa,
não conto nada, um suspense aumenta o meu carisma.
Olhou-me com carinho assim que me viu, não pensou duas vezes,
fui adotado. Me encheu de mimos, um banho de loja.  
Ganhei duas caminhas, uma azul escura (cama de macho), 
outra preta toda estampada de caveirinhas (sinistro), duas roupinhas; 
uma vermelha estampada de patas de cachorro, (pijaminha nas noites frias),
outra com estampa xadrez e com capuz (ela pensa que vou usar capuz), 
um pacotão de ração, uns bastonetes para limpar meus dentinhos, odiei, 
tapetinhos descartáveis pra eu fazer xixi e cocô, e alguns brinquedinhos.
Tinha um patinho amarelo que eu adorava, mas já detonei.
Ela ficou apavorada achando que comi um pedaço do brinquedo,
examinou meu cocozinho procurando o rabo e o bico do patinho.
Só sossegou depois que percebeu que não tive diarreia.

Nice sai cedo para o trabalho, levanta prepara minha ração.
Aí começa um irritante abre e fecha de portas, vai pra lá e pra cá,
fico doidinho pra entrar no quarto, na sala de TV e no banheiro.
Não consigo, ela fecha as portas e diz FICA. Já aprendi, se ela diz FICA,
fico paradinho quietinho, olhando com meu olharzinho numero um.
Se me ameaça com o chinelo dizendo Vá deitar, corro e me aninho
na caminha ou embaixo do armário, no meu cantinho preferido,
fico um tempinho escondido,  fazendo me de magoado.
Espero ela se acalmar ou esquecer a minha travessura.

Ela fala o tempo todo: me chama de bunitinho, 
erra meu nome me chamando por Kiko, se refere a mim dizendo ELA.
Vive me mostrando o tapetinho dizendo “xixi aqui”, aprendi, 
quase sempre vou no lugar certo, às vezes tem visita na casa, 
pra marcar meu território faço noutro lugar, Nice fica brava e dá bronca.
Xixi eu faço direitinho, mais cocô ainda não entendi onde é pra fazer,
cheiro aqui cheiro ali, faço perto do meu banheirinho, mal terminei
ela já vem com papel toalha e desinfetante, dá um fim no meu cocozinho.

Falando em marcar território, isso aqui virou um cabo de guerra.
É da minha natureza demarcar meu espaço, (sou um macho alfa),
por outro lado, a Nice deixa bem claro as regras da casa, 
vive  limpando o chão com desinfetante, água sanitária e álcool perfumado,  
au au au, vou ficar com rinite. Espirro, escorrego no chão úmido,
não tem jeito, a tarada do rodo e pano de chão ataca todos os dias.

O apartamento é gostoso, sempre limpinho.
Tomo conta de tudo enquanto minha dona fica fora. 
Ao chegar corre os olhos por tudo pra ver se tem algo fora do lugar, 
boba, arrumo tudinho antes que ela retorne.
Abre a porta, faço a maior festa, pulo bem alto, meu coração dispara.
A Nice me agrada dizendo “calma já cheguei, para de pular”.
Teme que eu tenha um ataque cardíaco, tão forte meu coração bate. 

Mal chega em casa começa a operação pano de chão, maquinas de lavar,
televisão, micro-ondas, TV ligada, torneira aberta. É muito barulho... 
Serve minha ração no potinho, limpa a casa, vai pro fogão, pra pia.

Come a ração dela, que é bem mais cheirosa e apetitosa que a minha.
Termina suas tarefas, vamos para a sala ver TV.
Ela vê TV, escreve, atende telefone e ainda joga "games".
Se ela estica as pernas no puf, deixando à mostra os "crocs" cor-de-rosa,
não adianta eu pedir carinho, espero dou um tempo... espero...
Vou chegando perto, faço carinho com minhas patinhas, ate ganhar cafune.
se o agrado para, continuo pedindo carinho, é muito bom.
Aproveita que estou perto e escova meu pelo delicadamente.
Sempre falando, falando, falando e falando.

Fico sempre por perto, na minha caminha cochilando, roendo meu ossinho.
Ela se levanta do sofá, vou correndo atrás xeretando,
percebo ela ir pra lá e pra cá, só pra ver eu ir atrás.
Á noite faz de tudo pra eu ir pro meu quarto (arrumado na lavanderia), 
me escondo, finjo dormir, ela sempre me engana... e eu vou pra caminha.
Antes de fechar o portãozinho, me faz um carinho, apaga as luzes e sai.
Hora de dormir, pra dia seguinte começar tudo de novo...

Sei que ela já gosta muito de mim, eu também gosto dela.
Sou muito bunitinho, faço tudo para agradar.
Minha vida é boa, tenho alguém pra eu cuidar e amar.
Acredito, esse é o início de uma grande amizade.

ps. Nice põe ração no meu potinho, mas o deixa encostado na parede, 
com minas patinhas, puxo e ajeito a tigelinha pra perto de mim.
ela já percebeu, encosta a tigelinha na parede, só pra ver eu puxar.
Ela adora ver que cachorrinho esperto sou.

Família, Nice tem uma filha, a Tathi.
Sempre vem à nossa casa, ela também já está apaixonada por mim.

um segredo, Nice e Tathi morrem de medo que eu as morda,
de vez em quando dou um sustinho nelas. 

Tenho que ser cuidadoso.
Manter em segredo meu envolvimento sexual com a blusa bege de lã.
Nice já me surpreendeu  umas duas vezes, parei na hora.
Me preocupa muito ter ouvido uma palavra horrível
CASTRAR... (au au au au au au au au au au).

1 de out. de 2012

TITICA DE GALINHA




foto de  http://elo7.me/TTgfyH

Tenho saudades:

Pudim de leite condensado que a Tia Inha fazia,
clarinho bem macio, a perfeita calda de caramelo,
entrando pelos furinhos do pudim, delicioso!
Não existe nada igual.

Saudades...
Da enorme bagunça na varanda da nossa casa em Ferraz.
O pai ralando milho, a mãe coando milho para fazer curau.
No fogão, um cadeirão com água fervendo para cozinhar as pamonhas.
Nós os menores abrindo a palha com cuidado para não rasgar,
transformando nossa tarefa em brincadeira.
Ao término, sair com os braços coçando de tanto rolar na palha.
Era um exagero, tudo era grande, panelas bacias, a colher de pau.
Depois de tudo pronto a vizinhança e nossos familiares,
ganhavam uma boa porção de curau e pamonha. 
Até hoje sou doidinha numa pamonha bem rustica cozida a palha.

Saudades...
Sair no quintal jogar milho para as galinhas, catar os ovos de cascas escuras e gema de amarelo bem forte. Olhar cada cantinho, atenta pra a qualquer momento ter que fugir de um galo garnisé bipolar, morador   do nosso quintal, pequenino e invocado se achava o rei da cocada preta.  
Entrar no cercado das galinhas, mesmo tomando todo cuidado, acabar com o calcanhar borrado de titica, lavar os pés no tanque de lavar roupas.
Uma aventura.

Em Ferraz nossa casa era pequena, com um quintal enorme.
O pai sempre “inventava”, uma ocupação para suas horas de folga.
Nos fundos do quintal um cômodo que chamávamos de quartinho.
A edícula abrigou parentes em momentos de dificuldade.
Foi quarto de despejo, onde se guardava de tudo;
ferramentas, moveis velhos, botijão de gás, latas de tinta, madeira, etc.
Um verdadeiro quarto de bagunças.

Meu pai o transformou numa chocadeira gigante.
Um balcão de madeira foi adaptado, lugar para os ovos, muitas lâmpadas.
Não sei como ele conseguiu a temperatura ideal.
Aproximados vinte dias depois, uma enorme quantidade de pintinhos amarelos e rebolantes, apareceram das cascas dos ovos.
Pra tanto pinto providenciar um galinheiro novo, o cercado ficou pequeno.
Os pintinhos eram tratados com farelo bem miudinho,
dezenas de boluchinhas amarelas, pipocando no cercadinho de tela fina.
Ao se transformarem em frangos, iam para o galinheiro,
e atingindo peso e idade ideal,  iam pra panela. 
Nunca comemos tanta carne de frango como naqueles tempos.

Tempo lembra temporal, dezenas de franguinhos no galinheiro.
Desaba um temporal daqueles de fim do mundo.
Corre - corre no quintal, a mãe com bacia, mil toalhas velhas, socorrendo e secando os franguinhos ensopados de água de chuva, barro e titica.
Com ajuda de nossa vizinha Dna. Maria, enxugavam os bichos e os botava no quartinho, com  todas as luzes da chocadeira acesas, o velho quartinho ficou quentinho,  ali os franguinhos foram salvos da morte prematura.
O mais bizarro era minha mãe enrolando os menores em panos velhos, arrumando os numa bacia e colocando no forno levemente aquecido, os bichinhos tremiam de dar pena. Pior era o cheiro de frango molhado, eca!
Muitos foram salvos, cresceram engordaram e... foram parar na panela.  
Melhor sorte tiveram as meninas, sobreviveram por mais tempo,
comeram muito milho e puseram muitos ovos, ciscaram muito quintal.
Até que um dia pai e mãe decidiram acabar com o galinheiro,
as senhoras galinhas foram pra panela de pressão.

Se alguém achar que nada disso aconteceu, tenho testemunhas a meu favor, cada detalhe é verdadeiro, aquela noite foi uma verdadeira maratona, poucos frangos morreram. Ao lembrar a luta para salvar os frangos, acho muito engraçado, penso nos meus pais, mesmo sabendo que mais tardem os frangos seriam mortos, pendurados no varal para escorrer o sangue.
E depois iriam para a panela.
Não deixaram que os bichos morressem daquela maneira trágica,
Tremendo de frio encharcados de lama e titica.
Acabou a historia,  iniciada com pudim de leite condessado,
e finalizada com titica de galinha.

24 de set. de 2012

3 de outubro, Niver da mamãe


           

Dia três de outubro seria aniversário de minha mãe.
Tempos atrás não imaginava um aniversário sem ela ao nosso lado.
O que não tem remédio, remediado está.
assim falava minha mãe e a mãe de minha mãe,
um dia minha filha repetirá a mesma frase.
         
Quero falar de minha mãe sem me entristecer,
É fato: o que não tem remédio, remediado está.
Tentar escrever coisas do dia a dia, sem pieguices ou tristezas.
Apenas lembranças.

Por esses dias lavei meus sapatos “melissa” no chuveiro,
deixei – os no box secando, os sapatos secaram, não os guardei.
Sábado dia de faxina, entrei no banheiro e lá estavam meus sapatos,
um em pé encostado na parede o outro pé virado com a sola pra cima,
Meu impulso ir desvirar sapato, parei, não precisava...
minha mãe já morreu, não vai morrer de novo...
Posso imaginar minha mãe rindo da minha atitude.

Por outro lado estou liberada livre e solta:-
Tranquilamente abrir o guarda chuva dentro de casa,
deixar todos os sapatos virados com a sola pra cima,
e se me der na telha posso andar pra trás.
Seria taxada de doida, e daí?
Uma coisa é certa, não há risco de minha mãe morrer.

Ninguém morre duas vezes,
Quem aguentaria a dor de perder duas vezes alguém tão amado.
Mas olhando por outro lado....
Um facínora odioso e impiedoso poderia morrer duas vezes !?!?!?
Pena de morte vezes dois para roubo seguido de morte.
Pena de morte vezes três para crimes hediondos.
Pena de Morte vezes cinco para crimes contra humanidade.
E assim por diante...
Não questione como morrer mais de uma vez.
Pensamentos insanos são assim.
Não tem manual, nem bula.

Sento para escrever, tenho uma ideia inicial.
Logo outra historia vai aparecendo.
E sem que eu perceba, já tomei outro rumo.
O assunto mudou, é como se já estivesse pronto,
só a espera de um gatilho para sair,
independente dos meus planos.

Tentei retomar com pequenas historias.
Como dizem, uma coisa puxa outra...
Nesse momento lembrar minha mãe é:

Varrer a casa sem deixar lixinhos nos cantinhos.
o diabo gosta de casa suja.
Esperar uma hora ou mais após a refeição para ir pro chuveiro.
muita gente já morreu disso.
Beijar o pão, antes de jogar fora.
(mesmo se tiver bolor beijo antes de jogar).
Se a visita é chata, vassoura atrás da porta.
Em hipótese alguma deixar a bolsa no chão.
(pra disfarçar a superstição, ela dizia “pra não estragar a bolsa”).
Quem brinca com fogo, faz xixi na cama.
Orelha esquerda ardendo, alguém falando mal de você.
Relógio quebrado, é atraso de vida.
Quebrar espelho, sete anos de azar.

Dentre tantas crendices e superstições,
A mamãe tinha pavor de temporais:
Sua cunhada Luzia (minha tia, irmã de meu pai)
Morreu aos quinze anos atingida por um raio.
Em dias de temporais, era lei na nossa casa
cobrir com lençóis ou toalhas, todos os espelhos.
Não tínhamos muito espelhos, mas todos eram cobertos,
até aqueles que ficavam no fundo da cristaleira.
Não andar descalça pela casa, para os pés não grudar no chão.
De maneira alguma usar facas, tesouras ou agulhas,
qualquer coisa de metal era proibido.
todas essas coisas atraem raios.

Saudades das tardes de temporais, mamãe eu e minhas irmãs, 
empoleiradas na cama do casal ou no sofá da sala,
esperando a tempestade passar, a chuva acabava.
Medo deve dar fome, pois a mãe ia preparar um lanche.
As vezes uma pipoca bem quentinha.

Viver com minha mãe foi muito bom, muitas lições de vida e coragem.
Algumas superstições e costumes, carrego comigo.
Muitas vezes, revejo minha mãe em mim.
Numa frase feita, uma situação boba e corriqueira,
Tantas vezes escuto minha voz, e reconheço a semelhança.
Reconheço - a em minhas irmãs, e ate na minha filha Tathi.
partes de minha mãe continua viva em nós.
A mãe diria que somos farinha do mesmo saco.

Quando a vida vira uma bagunça, sinto que estou perdendo o rumo.
Em dias de grande tempestade, aflita,
também tenho medo de raios e trovões,
alem do pavor infantil que tenho do escuro.
Me aconchego naquela cama ou no sofá quentinho.

E espero o temporal passar...

Depois do temporal,
nada melhor que pipoca quentinha ou bolinho de chuva.
E boas lembranças para aquecer a alma.










4 de set. de 2012

UM CAPETA EM FORMA DE "GURI"

Kel, não resisti. (perdão)  

Passagens da nossa infância são revividas no dia a dia.
Meu pai não era o protótipo de paizão, muito pelo contrario.
Também não é novidade, tenho boa memória para os tempos idos.
Até me surpreendo “a mim mesma”.
Da convivência na infância com meu pai, poucas lembranças.
Memórias vagas e fragmentadas,
Quase não o víamos, saía muito cedo para o trabalho,
Voltava, imagino morto de cansaço, já estávamos dormindo.
(naquele tempo criança jantava cedo e ia pra cama).

Na sala com meu pai, observo um entra e sai do quarto,
uma mulher levando bacia com água fervente e toalhas.
Eu, curiosa, sentada nos joelhos de meu pai, esperando,
ele me disse algo, não recordo o assunto.
Menina de quatro anos, atenta tentando espiar o quarto.
Os ruídos e conversas do quarto ao lado vinham abafados.
Quanto tempo ficamos ali, não sei.

Escutei um choro forte, a porta antes encostada, se abriu
deixando passar uma senhora morena e  gorducha, trazendo um pacotinho.
Jamais esqueci o rostinho redondo e rosa claro, a boquinha carnuda,
o cobertorzinho que enrolava firme a nova integrante da família, Raquel.
Assim como dos outros filhos, escolheram um nome bíblico.
Eunice, Israel, Léa e Raquel. (o menino sobreviveu apenas meses).
Se não me engano na Bíblia não tinha Léa, mas sim Lia.
Enfim uma pequena diferença.
Raquel, nome forte para um bebê pequenino, nós a chamamos de Kel,
não Quel.

Criança voluntariosa, caçulinha mimada pelas irmãs mais velhas.
Se contrariada, podíamos nos preparar, vinha pra cima feito boi bravo.
a caçula sempre levava vantagem, "deixa ela" é pequena,
alguém dizia, (pobres irmãs mais velha e do meio).

Eu, irmã mais velha, diariamente as levava à pré escola,
ficava do lado de fora no play ao alcance dos olhos das meninas,
Sabendo - me ali fora esperando, elas não choravam pra voltar à casa.
Reclamavam de um garoto, era eu quem dava pegas nos meninos.

Dizer o quanto amo minhas irmãs, é dispensável.
Hoje não estou aqui para falar de amores,
mas sim das peripécias de Kel a terrível.
“Correndo grande risco, gosto de viver perigosamente”.

Aos oito anos
Kel foi pega com uma amiguinha fumando no banheiro do colégio.
Nessa época vendia todas as embalagens de vidro do estoque de meu pai, 
litros de leite, garrafas de cerveja, acredito que até retalhos de fios de cobre,
que meu pai guardava enroladinho, ela vendia.
O homem do ferro velho devia adorar...
Pega no flagra, disse que era para comprar doces, será?????
De certo comprava doces, peças para fazer carrinhos de rolimã,
tecidos para um vestido novo. .. Assim por diante.
Se você tem a minha idade deve estar lembrando uma musica:
Co – nhe - ci  um capeta em forma de guri, a própria kel, era isso mesmo.

Falei de meu pai, agora lembrar um assunto que amarre Kel e Pai.
É sabido meu pai era homem severo; descia o braço, o fio de ferro e o cinto,
muitas vezes ficávamos com as pernas e as costas marcadas.
Por sorte usávamos meias três quartos...
Kel numa dessas ocasiões tomou uma foto do pai, com caneta esferográfica 
desenhou chifres  na testa e as sobrancelhas num ângulo quase reto.
A obra de arte deu ao nosso pai aparência demoníaca. 
Infelizmente assim nós o víamos, estava claro para nós, não pra ele.
Matuto do interior, seu entendimento daquele desenho fazia alguma alusão
à fidelidade conjugal de minha mãe.
E o homem que se achava corno nos encheu de porrada.
Levamos a maior surra, o pai queria saber quem fizera aquilo.
A única coisa que eu tinha certeza, não fui eu. Poderia, mas não o fiz.
Juramos inocência de pés juntos. Uma de nós jurou em falso.
Fomos saber que a artista era a Kel recentemente.

Pra dizer a verdade não tenho plena certeza ter sido ela.
Minha irmã as vezes, confunde as memórias.
Para a criminosa não ficar impune, nós três fomos castigadas.
Provavelmente quem mais se ferrou foi minha mãe.
Não sei como ela explicou "que era arte de de criança".
Creio que no íntimo mamãe se divertiu com aquela foto.

Mas não se preocupem. Kel não foi para FEBEM, na adolescência.
Nunca participou de assaltos a bancos ou lojas de departamentos.
Provavelmente "ganhou" alguns chocolates.
Apesar das diabruras da infância,
tornou - se uma mulher, generosa. Num corpo miúdo e frágil.
Perdeu um pouco daquela ousadia da infância.
É uma irmã querida e muito presente.
Diariamente me chama ao telefone.
Algumas vezes me acorda só pra dizer boa noite.

Ps. Léa não fique com ciúmes, prometo uma historinha só pra você.


31 de ago. de 2012

CALÇA BOCA - DE - SINO, RETORNO A WOODSTOCK




Não resisto um  reflexo, espelho, vitrine,vidro de carro.
Tudo que me refletir, dou sempre uma olhadinha.
Narcisismo? Não, muito pelo contrario.
Má postura, me causou uma hérnia de disco.
Aproveito a olhadinha para corrigir e endireitar as costas, 
não consigo manter a postura correta por muito tempo.
Vejo-me vestida um jeans a maior parte do tempo.
Usando uma peça; calça, jaqueta ou colete.
É fato, jeans é a roupa mais democrática que existe.
Você pode ter um jeans “baratinho ou carinho”.

Não vou dizer na minha juventude, pois continuo jovem ?!?!
Nos anos 60/70 o sonho de consumo de todo jovem,
era uma calça Lee americana, o verdadeiro blue jeans.
O Brasil fabricava o verdadeiro e perfeito (tecido).
Calças, macacões e jaquetas, eram made in USA

Todo mundo jovem queria uma Lee americana,
só encontrada  no “mercado negro”, e paga em dólar.
Se algum conhecido ia à galeria pajé, levava uma lista de encomendas.
O jeans vendido aqui era molenga e sem graça, não desbotava.
Era impossível se contentar com aquele Blue jeans horroroso.
O preço de uma calça Lee era bem alto, um tormento para os pais.
Tentei lembrar quantos U$ dólar custava, não consegui.
Pesquisei achei algo em torno de quinze dólares (?????).
Se alguém lembrar, por favor, me conta.

Ganhamos nossa primeira Lee, deveria ser presente de Natal.
Nossa mãe escondera o pacote, para nos entregar  dia vinte e cinco.
Como sempre acontecia a minha irmã kel revirou a casa
e só sossegou depois que encontrou o pacote.
Presente de Natal antecipado...
Finalmente! Três calças Lee americanas originais.
Uma para cada menina: Nice, Lea e Kel.
Rapidinho para costureira cortar e fazer outra barra.
A calça tinha pernas enormes, (numeração americana).
Cortava-se um pedaço das pernas acertando o comprimento,
Com o pedaço da perna recortado em forma de triangulo,
Fazia-se um alargamento bem na boca da calça,
A famosa boca -de - sino.
O Sr. Santos meu sogro, ex auxiliar de alfaiate, 
fazia uma boca de sino perfeita.

Já naquele tempo os jeans eram customizados
Tinha gente que botava agua sanitária pra desbotar,
era calça com a marca da pedra do tanque,
bunda da calça e os joelhos clareados.
Uns tiravam os bolsos outros recortavam com Gilette,
Um rasguinho aqui outro ali ou uma tinta sujando levemente.
Cada qual inventava uma maneira diferente.
Sem contar que quanto mais velha e desbotada era melhor
Podia-se até comprar Lee já velha e desbotada.
Muitas calças “sumiam dos varais”.
Eu lavava com cuidado, enxaguava com agua e vinagre,
pra não desbotar, era como uma jóia rara, cuidava para não acabar.

Meu segundo jeans foi presente do Cley, eram duas calças connie,
uma pra mim outra pra ele, eram lindam, já tinham a boca-de-sino,
cintura um pouco mais alta e as pernas levemente pantalonada.
Um arraso de linda! O corte era diferente da lee, o azul era mais escuro,
o tecido levemente mais fino e delicado.

Só para constar, no dia dos namorados trocamos presentes
ganhei o jeans e comprei duas blusas de cashmere,
beje castor, modelos feminino e masculino, macia e gostosa de usar.
Era moda os casais se vestirem com roupas iguais (unissex).
Namorados de mãos dadas e vestindo roupas gêmeas.
Hoje me sentiria bem ridícula saindo na rua de par de vasos.
Mas naquela época, era como usar um anel de compromisso.

Nós, os nativos das décadas de 60/70,
Vimos romanticamente James Deam e Marlon Brando,
usando pela primeira vez calças jeans e camisetas brancas.
Roupas usadas no dia a dia pelos fazendeiros americanos,
transformaram-se num dos símbolos da contracultura
E da juventude transviada.

Enlouquecemos com Woodstock ,
três dias de paz e amor  15/08/1969 a 17/08/1969
Mais quinhentas mil pessoas, a maioria vestindo blue jeans,
batas e camisetas coloridas,  muito cabelo comprido.
Rolou muito rock, muito amor e muita viajem.
Woodstock Music & Art Fair,
na verdade aconteceu na cidade rural em Bethel estado de Nova York,
numa fazenda de 600 acres  (aprox. 2.400.000 m²), 
os moradores  de Woodstock  temerosos pela invasão
de hippies e da contracultura, não permitiram o festival.
Muita chuva de verão e muita lama, muito amor livre.
Eu não estive lá, vi na telona “aconteceu em Woodstock”
Woodstok continua em mim, através dos meus ídolos e do meu bue jeans. 


ps- tenho guardado no armário um macacão jeans,
daqueles que os fazendeiros americanos usam,
a-do-ro, vou usa-lo na minha festa de oitenta anos.


Joe Cooker

Carlos Santana 

Janis Joplin

Joan Baez

Woodstock (que não foi em Wookstock)

16 de ago. de 2012

CANTANDO NA PANELA :)




Ao final de cada escrito envio uma mensagem especial, hoje lembro minha Marlene Sant'Anna, 
cantora oficial do Municipal de Poá.


Eu cantava muito, (não em qualidade mas em quantidade).
Meu repertório todas as canções da Elis.
Saudades dos grandes festivais da Record, década de sessenta.

Êeeeeeee tem jangada no mar...
Olha o arrastão entrando no mar sem fim.

Na cozinha da nossa casa eu me acabava de cantar.
Sem pudor nenhum (sempre achando que estava abafando)
Eu cantava e cantava e cantava e.........................................cantava.
Soltava minha voz dentro da panela.
Só quem já o fez, sabe como é bom cantar dentro da panela.
Pegue uma panela enorme e larga, (de alumínio),
daquelas para fazer arroz pra mais de trinta pessoas.
Coloque a cabeça meio dentro meio fora da panela.
De maneira a projetar a voz dentro e ao mesmo tempo ouvir.
Então cante a toda força dos pulmões.
Uma experiência incrível.
Não existe no mundo melhor acústica e retorno.
Cantar na panela só se compara a cantar no chuveiro


...Por onde for quero ser seu par...


No chuveiro, na panela ou com a vassoura (microfone de pedestal)
No meu cantar oitavado e em falsete.
Eu era Elis, Nara, Rita Lee, Marilia Medalha, Beth carvalho.
Fui Caetano, Gil, Geraldo Vandre, Jair Rodrigues, Simonal,
Roberto Carlos, Ronnie Vonn, Ney Matogrosso, Fagner, 
MPB 4,  cinco e seis, quarteto em Cy, uma mutante  tropicaliando.
Fui muito por demais Chico Buarque,
às vezes era Joplin, summertime num embromÊs de dar gosto,
com ajuda da minha mana mara, que transcreveu a letra de summertime
escrita tal como se pronuncia "sâmertaime" e aí por diante.
se no inglês embromava, as canções em italiano eram perfeitas:-

Il nostro amore era invidia di chi è solo .....

...Foi no parque que ele avistou,  juliana...
ela e o amigo João.

Um dia nossa vizinha Dora Santasofia,
recebeu a visita de um parente musico,
Não lembro detalhes.
Só sei que eu estava na sala da casa da Dora,
para uma audiência,  a canção escolhida:
 .... sem sofrer não se aprende a amar, louvo a Deus meu sofrimento... 
Moacyr Franco (eu a-ma-va).

...A moça feia debruçou na janela,
pensando que a banda tocava pra ela...

E por falar em sofrimento, foi assim, dois sofrimentos.
Sofria quem tentava acertar o tom, sofria muito quem ouvia.
Eu não escutava uma nota sequer do violão,
não conseguia entrar no tom, tremia suava frio.
Várias tentativas, o "maestro", balançou a cabeça negativamente.
Dora tentando entender como eu tinha cantado tão mal.
Afinal ela me ouvia diariamente em meus "sarais solitários e doméstico"
Minha primeira e única audiência, fracasso total.
Jamais seria uma cantora de sucesso.
Não mais cantaria no programa do Chacrinha.
Oh Deus Oh Céus.
O abatimento passou, também o desencanto se foi.
Continuei no meu canto, cantando

...Vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora....

No colégio Municipal de Poá, o prof. Jose Martins, do Orfeão, 
me escalou para um pequeno solo na apresentação do coral.
Fui Uirapuru seresteiro cantador do meu sertão.
Cantei, sem medo e sem a costumeira timidez.
Não sei se foi bom, tampouco se foi ruim, se aplausos vaias ou silencio.
Só sei, naquele dia arrumei um namorado,
meu primeiro e quase único namorado. 

...A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar...

Outro dia me dei conta que não canto mais...
Nem no chuveiro, nem na panela.
As vezes numa festa arrisco o videokê.
Se antes cantava sempre uma oitava abaixo,
hoje nem oitavo mais, meu cantar enrouqueceu,
a voz não oitava mais, a garganta esqueceu o falsete.
Quem sabe minha alma esteja enrouquecida.

Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei...

Maria de santas Maria de flores,
seria Maria, Maria sòmente ...

Caminhando contra o vento...   eu vou.... por que não?

....Foi no parque que ele avistou,  juliana...
ela e o amigo João.

Quem anda atras de amor e paz não anda bem...

Vou voltar para o meu lugar e ouvir uma sabiá...
e eu hei de ouvir cantar uma sabiá....
.
.
.
.


26 de jul. de 2012

FERIAS EM ESPERANÇA





Ao ver fotos do NIVER casamento de Ivário e Cleise.
Lembrei-me do dia do casamento,
Por tabela muitas saudades da primeira viagem ao Rio Grande do Sul.
Meus queridos cunhados ainda solteiros.
Eu e Cley estávamos casados há pouco tempo.
Fomos de “BUZÃO”, dezesseis horas na estrada, paradas para pipi e
lanchinho, grana contadinha, não dava pra exageros.
Dormi o tempo todo, o Cley não pregou o olho, mal acomodado,
com suas pernas enormes prensadas entre os bancos.

Esperança, o nome do lugar já era convidativo.
Pra chegar ao nosso destino mais um trecho numa Kombi,
apenas dois horários pra embarcar, um pela manhã outro no fim da tarde.
Fim de tarde lá fomos nós (quase perdemos o horário)

Pense numa Kombi lotada. Pensou? Bota mais meia dúzia de gente.
Pra ter uma ideia eu fui sentada com metade da bunda no colo do Cley
a outra metade no colo do Ivario e parte do meu corpo esmagando a Cleise.
Não me recordo quanto tempo ficamos na Kombi.
Foi uma eterrnidade....

Recebidos timidamente e muito carinhosamente 
pelos queridos Darcy, Edith (pais de nosso cunhado)
e Paulo (filho caçula do casal, na época adolescente o rosto coberto de espinhas).
Saudades, Darcy e Paulo (já se foram).
A timidez inicial de nossos anfitriões logo se transformou em camaradagem.
O querido casal se mudou para o celeiro e nos ofereceu o seu quarto.
Tentamos ficar no celeiro, qual o quê, ficamos com a cama do casal.
Cama acabou virando motivo de piada, o colchão afundava e
fazia um buraco bem no meio, era impossível o casal dormir afastado.
Cada um virava pro seu lado, o colchão afundava bem no meio
e nos empurrava para o meio da cama.
Aproveitamos e dormimos abraçadinhos. (êta colchão safadinho).

Foram dias maravilhosos.
Com direito a pão caseiro fresquinho, leite tirado na hora,
manteiga batida no mesmo dia, amarelinha e saborosa.
Queijo caseiro de cor bem clara  e cheio de furinhos.
Dna. Edith trabalhava muito pra nos oferecer muita coisa boa,
preparada no fogão ou no forno ambos à lenha.
A geleia adoçada com melado de cana, a cuca amarelinha e macia.
Tantas iguarias deliciosas, só em lembrar dá água na boca.
Aproveitando o creme (nata) de leite fresquinho e bem gordo,
eu e Cleise tentamos bater creme chanty, não deu certo.
Fizemos uma horrível manteiga doce argh!

As partidas de baralho ( PIF) após o jantar.
moeda de aposta era feijão ou milho, o ganhador amontoava os grãos
no cantinho da mesa como se fossem dinheiro.
O Cley discaradamente roubando no jogo, como sempre fazia.
O almoço com massa fresquinha, receita dos imigrantes italianos.
A espremidinha (cachaça com limão vermelho) antes das refeições.
Deliciosa convivência com pessoas de uma simplicidade quase ingênua.
Fomos cativados pra uma vida inteira.
Tudo era muito gostoso, ferias de uma semana, podia ser mais tempo.

Sair à tardinha atravessar o pasto  dar direto no arroio
uma queda d´agua que acabava num pequeno laguinho,
aonde íamos de toalha e sabonete para brincar feito crianças,
depois tomar banho ali mesmo, cuidando para não escorregar nas pedras.
Uma delícia!
Pena que o  bando de borrachudos, me elegeram seu prato principal.
alérgica a picadas desses monstros, demorou muito para curar as feridinhas.

Ir para o arroio tomar banho tudo bem,
levar sabonete e toalhas tudo bem.
atravessar o pasto, olhando bem por onde pisa tudo bem.

Daí a atravessar o pasto, no meio de dois bois,
Parecido e Mascarado (e mais um cavalo).
Eu ou a Cleise com uma toalha de banho VERMELHA nas costas?!?!
Não deu outra o boi correu pra cima de nós.
Pernas pra que te quero, correr de bater o pé na bunda.
Ante tamanho desespero, corríamos sem esconder a toalha vermelha.
pisando o esterco com pés descalços, pra piorar a situação
um bando de quero-quero se juntou aos bois  pra nos atacar e aterrorizar .
Nunca corri tanto na minha vida!
Enquanto fugíamos em disparada em direção a casa
A família Fries espiando na janela se matando de rir,
o ataque dos bois “sujos”, como disse a vó Edith,
foi motivo pra muita risada por muito tempo.
Paulo naquela época um menino, rachou o bico de tanto rir,
divertindo - se com a cena, livrou - se de  vez de sua timidez.
E zombar da gente foi sua maior diversão pelo resto da semana.

Uma semana de férias, poderia ficar aqui  e escrever muito.
Tantas são as lembranças de Esperança.
Ir a vendinha a e tomar cerveja,
acabar com os pés na visita ao Morro do Espelho,
comer frango com farofa à sombra de uma árvore.
Receber visitas na varanda, junto com os donos da casa.

Até do chimarrão sinto saudades.

Vila Eperança - Maratá - Rio Grande do Sul

Despedida...
Todo mundo chorou, a Vó Edith já chorava um dia antes de sairmos.


Minha grande vingança contra os bois Mascarado e Parecido.
Eles foram "transformados" tempos depois em linguiças, ensopados,
assados, carne de panela (churrasco não, boi velho tem carne dura)
Sem a companhia da gangue de QUERO - QUERO, os bois foram
derradeiramente acompanhados por salada verde e batatas dorê
e uma boa cerveja gelada J.



17 de jul. de 2012

SAPATINHOS VERDES

NÃO ACHEI FOTO DE SAPATINHOS VERDES
 se você for daltônico verá verde,
se não for, use a imaginação  
 :)


Outro dia comentei com minha mana Cleise,
sobre a tendência das pessoas idosas em cultivar suas memorias antigas.
Acho que já nasci idosa.
Eu mesma me assusto com lembranças tão antigas,
chego a pensar que construo lembranças,
só de ouvir outros contar o ocorrido.
Então reviro daqui e reviro dali, e chego à conclusão.
Eu Lembro mesmo!

Posso me ver (como num filme), na igreja na época de natal.
esperando ansiosa a distribuição de doces embalados em
saquinhos de papel colorido, tipo celofane,
o fundo quadradinho de papelão dava volume ao pacotinho
dando a impressão que tinha muito mais doces.
Meu olhar de criança cruzar com olhar de meu pai,
lá no altar, sobrancelhas cerradas e olhar severo,
(na qualidade de membro do presbitério).  
Tentando conter o nosso passarinhar barulhento e ansioso.

Menininha aos quatro ou cinco anos,
meu par de sapatinhos verdes, do mais delicado e macio couro,
feitos pelo "irmão Simplício", artesão de primeira.
Eram sapatinhos como os de boneca,
Correia fina com um minúsculo botãozinho
coberto do mesmo material do sapato.
Tão miúdo e bonitinho, foi apelidado de sapinhos.

O ”Irmão” Simplício um nordestino de cabeça achatada,
Olhos de um castanho quase verde, e uma lasquinha bem miúda de ouro 
destacava seu sorriso aberto e debochado.
Ele me apelidou de café-pão, naqueles tempos eu já era tarada
num café com  leite e pão com manteiga.

Quando vejo um par de sapatos verdes,
lembro nos meus sapatinhos “sapinhos”,
meu amigo e seu delicado presente.

Naquela manhã de sexta feira.
(mentira, não sei que dia da semana era, boa memória nem tanto).
A mamãe nos deixaria na casa com Avó Conceição.
Ela acompanharia meu pai ao médico.
A pequena Nicinha cismou em calçar os sapatos novos.
E teimou tanto (pensa que teimou e conseguiu).
Não mesmo! O pai que era severo!
Perdeu a paciência, como sempre acontecia.
Tirou o cinto que usava, e me “convenceu”,
Que os sapatinhos novos deveriam ficar em casa.
Assim fomos eu e minhas irmãs para casa da avó,
Chegando, mamãe cochichou o ocorrido.
Vó Conceição abanou a cabeça com o rosto muito triste.
Levou-me para a sua cozinha, esquentou água e botou na bacia.
Com os olhos marejados, me deu um banho de salmoura.
Fazendo a agua quentinha e salgada correr delicadamente
Pelo meu corpo ferido...
Secou me com toalha fininha e macia.
era tanto amor, acho nem senti dor.

Minha memória que tudo lembra,
Não se recorda a dor sentida.
Nem as marcas da violência deixada nas pernas.
Tampouco recordo os sapatos usados naquela manhã.

Lembro apenas dos meus sapatinhos verdes e macios,
de correia fina e botãozinho delicado.
E do velho amigo “Irmão Simplício”.
Com seus olhos castanhos quase verdes.
E a lasquinha de ouro no dente.
A sorrir e me dizer “Bom dia café-pão”



 Saudades de nossa amada   vó Conceição,
 não era mãe de minha mãe nem de meu pai.
Mas era nossa avó de verdade.

12 de jul. de 2012

LAGRIMA DE NOSSA SENHORA
















Sabe que gosto tem gabiroba, maria pretinha,
amoras e morangos silvestres ??????
Era muito bom comer gabiroba, 
pena, não lembro mais o sabor
O prazer era entrar no mato (no Cambiri),
colher a frutinha da arvore e comer sem lavar.
Muitas vezes pisar numa cobrinha verde, (quebra-quebra)
e sair correndo assutadas, pensando em não voltar mais.
Sempre voltávamos.

Comer Maria pretinha, chegar a casa com a língua roxa, 
e as vezes ter uma baita dor de barriga.
Achar na mata aquele pé de dormideira,
bater nas folhas e vê-las se fecharem num sono.

Colher florzinhas roxas em formato de miúdos guarda- chuvas
As flores pareciam terem sido amarradas uma a uma
naquele cipó fino e cheinho de folhas.
Levar pra casa tiras e tiras de cordão florido,
Fazer tiaras para a cabeça e brincar de princesa...

Pegar sementinhas em vários tons de acinzentado
(até hoje não sei se eram frutinhas ou sementinhas)
Vou perguntar pro Sr. Google e já volto.
Voltei, são sementes.
Caixa com 800 sementinhas custam R$ 49,00
O nome da semente é lágrima de nossa senhora.
Voltando a falar das sementinhas.
Eu e minhas irmãs por horas com linha e agulha fabricando nossas jóias,
se "emperuar" toda e sair desfilando empetecadas de colares e pulseiras.

Ir pro canteiro de legumes,
Pegar pequeninos chuchus e abobrinhas.
Roubar da cozinha batatas, cenouras.
e um montão de palitos de fósforos
Fabricar porquinhos, vaquinhas, galinhas, etc.
Usando os palitinhos para fazer as patas dos bichos,
e furar no legume marquinhas formando olhos bocas e focinhos.
Difícil era fazer as galinhas ficarem em pé sobre dois palitos.
Juntar pequenos gravetos para montar um cercadinho,
no nosso imaginário, era uma grande fazenda.

Tantas eram as brincadeiras; Ciranda, passa anel, pique salve,
Esconde - esconde, assim por diante, mil brincadeiras.
Muitas canções de roda.
Minha predileta: se essa rua fosse minha...
Mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhantes...

Relembrar os tempos de infância é meio lugar comum.
Ainda assim é bom demais recordar.
Muitas coisas tem o sabor o cheiro de infância.
Quebra queixo, guaraná, biscoito de polvilho,
Sorvete quente (Maria - mole dentro dum copinho de casquinha)
Pirulito de caramelho em formato de guarda chuva,
rolinhos de beiju, bananada no palito, picolé,
bala de goma, pão de ló recheado com goiabada.
Tantos outros sabores me remetem á infância.

Bons tempos.

Uma coisa adorávamos, comer tomate com açúcar.
Uma iguaria que nunca mais provei
Receita complicada:
Cortar os tomates em seis (formato de gomos).
Colocar num prato fundo, cobrir com muito açúcar.
Deixar descansando por uma hora mais ou menos.
Os tomates ficam mergulhados numa calda cor-de-rosa. 
Pronto pra se deliciar!

Sempre penso em fazer um dia tomates com açúcar
Tenho medo que o gosto seja ruim.
E acabe com o encantamento...  :)