18 de jan. de 2013

Rua Guanabara no 40 - FERRAZ DE VASCONCELOS









Rua Guanabara, numero 40. Ferraz de Vasconcelos.
Cenário da minha infância e adolescência.
Testemunha de  tantas  "minhas primeiras vezes”: -
A geladeira e TV, sapato de salto alto, o absorvente higiênico.
Amigas inseparáveis,  inimigas de morte.
A reprovação no colégio, os primeiros amor e beijo,
primeiros cigarro e pileque, primeiro namorado,
amores platônicos e desilusões.
Primeira transa... adeus “virgindade”.

Reencontro velhos conhecidos e amigos.
Os vejo em fotos pequeninas, nas paginas das redes sociais.
Lembranças de Luízes, Osmares, Decos, Veras, Vanias, Suelis, Normas.
Tantos Joses, Pedros, Jorges, Marias, Antonios, Lúcias, Lúcios,
Alices, Alaídes, Reginas, Celias, Emílias, Sonias, Terezas, Cyntias, 
Antonias, Sonias, e por aí adiante...
Gente especial, direta ou indiretamente fizeram parte da minha vida.
Lembranças de uma Ferraz que já não existe...

A estação de trem...
Diariamente de Ferraz com destino Escola Municipal de Poá.
Após vergonhosa reprovação na primeira série,
mamãe me transferiu para colégio em Poá.
Finalmente tomei juízo, e resolvi estudar (mais ou menos).
Quantas vezes íamos direto de Ferraz até Mogi,
em Mogi retomávamos ao nosso destino
no trem dos estudantes. Me pergunto:
Aqueles lindos rapazes, jovens universitários,
prestavam alguma atenção em nós colegiais?

A baliza em sua roupinha de cetim, à frente da fanfarra.
O chapéu especial a botinha de cano longo,
lembrava um soldadinho de chumbo.
Imaginava em meus sonhos, um dia...  eu baliza.
Magrela e desajeitada, só em sonho mesmo...
Nos “14 de outubro”, desfilava de saia azul marinho,
meias ¾,  camisa branca e fita nos cabelos.
Os pelotões de crianças seguiam a fanfarra,
organizada pelos rapazes Aspásio.
a fanfarra seguia a baliza...

A bandinha de flauta doce.
Finalmente eu me livrara do uniforme escolar.
Fiquei linda de saia xadrez em vermelho e preto,
blusinha branca de manguinhas fofas.
Ao ombro um xale do mesmo tecido da saia.
Se não me engano tínhamos pequenas flores nos cabelos.
Lindas escocesas estilizadas.
Ensaiamos muito, até os dedos agirem por conta própria,
independente do nosso nervosismo e ansiedade.
Grande dia! Bem em frente ao palanque da autoridades
a bandinha de flauta doce se apresentou,
“nove de julho pã ra pam pam pam”.♭♪

Baile de debutantes.
... Verinha conversando com minha mãe,
eu escutando quietinha atrás do balcão.
Não lembro se eu queria ou não debutar.
Conversa demorada, acho que a mamãe nem sabia
o que era um baile de debutantes...
Talvez o custo fosse muito alto para as nossas posses.
De qualquer maneira meu pai não permitiria.
Não debutei...

Bailes de Formatura
Acabei debutando num dos muitos bailes de formatura.
Era um tal de empresta, troca e reforma vestidos.
Num desses empréstimos, meu lindo vestido verde,
com decote princesa e saia levemente godê,
nunca mais voltou pro meu armário.
Outro dia vi a garota que “sumiu” com meu vestido,
hoje ela é uma senhora, assim como eu.
Acho que ela nem se lembra mais...
daquele  vestido verde com decote princesa.

Ferraz,  todos se conheciam.
Filho de sicrano irmão de beltrano...
Íamos pra casa de charrete, poucos carros na cidade.
As charretes além dos passageiros levavam
bujões de gás, sacolas da feira ou mercado,
Grandes tapetes enrolados, colchões e pequenas peças de mobília.
Na nossa cidade cada família tinha um comerciante, professor,
funcionário da “LIXA” ou Baxmann ou ainda um bancário.
As moças que trabalhavam no banco,
eram admiradas pelas mocinhas mais jovens.
No trabalho diário atrás dos guichês,
vestidas e maquiadas impecavelmente.

Saudades.
Minha pequena Ferraz de Vasconcelos.
Batizado de bonecas, carrinhos de rolimã, pião e pipa.
O alto falante da praça,  a hora da Ave maria.
Tardes de trabalhos em grupo, aulas de recuperação.
Ensaio de bandas na garagem, Bailinhos pró formatura.
Jogos de futebol... Lanchinho na Padaria do PEPE.
Passeios no “Cambiri”. Festa Junina no colégio.
Eventos no salão da Igreja Católica.
Festa da Uva, com direito a roupa nova.
Bailes na S.A.F.V. 
Ensaios  exaustivos de peças teatrais,
no final das contas, todas as falas improvisadas,
numa única apresentação num orfanato...

Ferraz provinciano
A moça desiludida  anunciando sua ida para um convento,
voltando tempos depois de suas feridas curadas.
A jovem mãe solteira e  a mulher desquitada,
tentando refazer a vida, sob comentários da cidade inteira.
A menina daquela janela, se envolver com um velho babão,
em troca de uns poucos trocados, ou uma roupinha nova.
A linda noiva triste, do casamento arranjado.
Os avós assumindo o neto como seu filho,
protegendo assim a jovem mãe solteira.
Os casamentos realizados apressadamente,
muitos bebês nascendo de sete meses.



1960 / 1970
Se um de nós arriscava um “cigarrinho do capeta”,
nem pensar da mãe ou pai saber.
No dia seguinte o ocorrido já estava na Radio Peão.
Uma experimentadinha já ia pra boca do povo.
Voltar para casa após o horário permitido, sermão e castigo.
Nossos pais mantinham marcação serrada,
rédeas curtas, assim nos "protegiam" dos males do mundo. 
Pais mães, tia e avós; temerosos, inseguros e aflitos,
vislumbrando mudanças anunciadas
naquelas décadas de sessenta e setenta.

Ferraz de nossos amores e desamores,  
de tantos encantos e desencantos.

Saudades da Ferraz de Antigamente.

Saudades da nossa casa na Rua Guanabara nº 40.
Saudades de mim de antigamente...