5 de out. de 2012

Cãoversa de Pet, Tiko parte I





Meu nome era titico.
Minha nova dona, não gostou, mudou para Tiko.
Motivo: - titico lembra titica de galinha.
Estou de nome novo, casa nova e dona nova,  
embora ela esteja chegando perto dos sessenta anos, (não espalha).
É minha nova dona, cá entre nós, meu faro canino me diz:
"A Nice deve ter um parafuso a menos".

Foi me buscar na loja de pet, onde eu aguardava para adoção.
Não tem nenhuma informação sobre a minha vida noutra casa,
não conto nada, um suspense aumenta o meu carisma.
Olhou-me com carinho assim que me viu, não pensou duas vezes,
fui adotado. Me encheu de mimos, um banho de loja.  
Ganhei duas caminhas, uma azul escura (cama de macho), 
outra preta toda estampada de caveirinhas (sinistro), duas roupinhas; 
uma vermelha estampada de patas de cachorro, (pijaminha nas noites frias),
outra com estampa xadrez e com capuz (ela pensa que vou usar capuz), 
um pacotão de ração, uns bastonetes para limpar meus dentinhos, odiei, 
tapetinhos descartáveis pra eu fazer xixi e cocô, e alguns brinquedinhos.
Tinha um patinho amarelo que eu adorava, mas já detonei.
Ela ficou apavorada achando que comi um pedaço do brinquedo,
examinou meu cocozinho procurando o rabo e o bico do patinho.
Só sossegou depois que percebeu que não tive diarreia.

Nice sai cedo para o trabalho, levanta prepara minha ração.
Aí começa um irritante abre e fecha de portas, vai pra lá e pra cá,
fico doidinho pra entrar no quarto, na sala de TV e no banheiro.
Não consigo, ela fecha as portas e diz FICA. Já aprendi, se ela diz FICA,
fico paradinho quietinho, olhando com meu olharzinho numero um.
Se me ameaça com o chinelo dizendo Vá deitar, corro e me aninho
na caminha ou embaixo do armário, no meu cantinho preferido,
fico um tempinho escondido,  fazendo me de magoado.
Espero ela se acalmar ou esquecer a minha travessura.

Ela fala o tempo todo: me chama de bunitinho, 
erra meu nome me chamando por Kiko, se refere a mim dizendo ELA.
Vive me mostrando o tapetinho dizendo “xixi aqui”, aprendi, 
quase sempre vou no lugar certo, às vezes tem visita na casa, 
pra marcar meu território faço noutro lugar, Nice fica brava e dá bronca.
Xixi eu faço direitinho, mais cocô ainda não entendi onde é pra fazer,
cheiro aqui cheiro ali, faço perto do meu banheirinho, mal terminei
ela já vem com papel toalha e desinfetante, dá um fim no meu cocozinho.

Falando em marcar território, isso aqui virou um cabo de guerra.
É da minha natureza demarcar meu espaço, (sou um macho alfa),
por outro lado, a Nice deixa bem claro as regras da casa, 
vive  limpando o chão com desinfetante, água sanitária e álcool perfumado,  
au au au, vou ficar com rinite. Espirro, escorrego no chão úmido,
não tem jeito, a tarada do rodo e pano de chão ataca todos os dias.

O apartamento é gostoso, sempre limpinho.
Tomo conta de tudo enquanto minha dona fica fora. 
Ao chegar corre os olhos por tudo pra ver se tem algo fora do lugar, 
boba, arrumo tudinho antes que ela retorne.
Abre a porta, faço a maior festa, pulo bem alto, meu coração dispara.
A Nice me agrada dizendo “calma já cheguei, para de pular”.
Teme que eu tenha um ataque cardíaco, tão forte meu coração bate. 

Mal chega em casa começa a operação pano de chão, maquinas de lavar,
televisão, micro-ondas, TV ligada, torneira aberta. É muito barulho... 
Serve minha ração no potinho, limpa a casa, vai pro fogão, pra pia.

Come a ração dela, que é bem mais cheirosa e apetitosa que a minha.
Termina suas tarefas, vamos para a sala ver TV.
Ela vê TV, escreve, atende telefone e ainda joga "games".
Se ela estica as pernas no puf, deixando à mostra os "crocs" cor-de-rosa,
não adianta eu pedir carinho, espero dou um tempo... espero...
Vou chegando perto, faço carinho com minhas patinhas, ate ganhar cafune.
se o agrado para, continuo pedindo carinho, é muito bom.
Aproveita que estou perto e escova meu pelo delicadamente.
Sempre falando, falando, falando e falando.

Fico sempre por perto, na minha caminha cochilando, roendo meu ossinho.
Ela se levanta do sofá, vou correndo atrás xeretando,
percebo ela ir pra lá e pra cá, só pra ver eu ir atrás.
Á noite faz de tudo pra eu ir pro meu quarto (arrumado na lavanderia), 
me escondo, finjo dormir, ela sempre me engana... e eu vou pra caminha.
Antes de fechar o portãozinho, me faz um carinho, apaga as luzes e sai.
Hora de dormir, pra dia seguinte começar tudo de novo...

Sei que ela já gosta muito de mim, eu também gosto dela.
Sou muito bunitinho, faço tudo para agradar.
Minha vida é boa, tenho alguém pra eu cuidar e amar.
Acredito, esse é o início de uma grande amizade.

ps. Nice põe ração no meu potinho, mas o deixa encostado na parede, 
com minas patinhas, puxo e ajeito a tigelinha pra perto de mim.
ela já percebeu, encosta a tigelinha na parede, só pra ver eu puxar.
Ela adora ver que cachorrinho esperto sou.

Família, Nice tem uma filha, a Tathi.
Sempre vem à nossa casa, ela também já está apaixonada por mim.

um segredo, Nice e Tathi morrem de medo que eu as morda,
de vez em quando dou um sustinho nelas. 

Tenho que ser cuidadoso.
Manter em segredo meu envolvimento sexual com a blusa bege de lã.
Nice já me surpreendeu  umas duas vezes, parei na hora.
Me preocupa muito ter ouvido uma palavra horrível
CASTRAR... (au au au au au au au au au au).

1 de out. de 2012

TITICA DE GALINHA




foto de  http://elo7.me/TTgfyH

Tenho saudades:

Pudim de leite condensado que a Tia Inha fazia,
clarinho bem macio, a perfeita calda de caramelo,
entrando pelos furinhos do pudim, delicioso!
Não existe nada igual.

Saudades...
Da enorme bagunça na varanda da nossa casa em Ferraz.
O pai ralando milho, a mãe coando milho para fazer curau.
No fogão, um cadeirão com água fervendo para cozinhar as pamonhas.
Nós os menores abrindo a palha com cuidado para não rasgar,
transformando nossa tarefa em brincadeira.
Ao término, sair com os braços coçando de tanto rolar na palha.
Era um exagero, tudo era grande, panelas bacias, a colher de pau.
Depois de tudo pronto a vizinhança e nossos familiares,
ganhavam uma boa porção de curau e pamonha. 
Até hoje sou doidinha numa pamonha bem rustica cozida a palha.

Saudades...
Sair no quintal jogar milho para as galinhas, catar os ovos de cascas escuras e gema de amarelo bem forte. Olhar cada cantinho, atenta pra a qualquer momento ter que fugir de um galo garnisé bipolar, morador   do nosso quintal, pequenino e invocado se achava o rei da cocada preta.  
Entrar no cercado das galinhas, mesmo tomando todo cuidado, acabar com o calcanhar borrado de titica, lavar os pés no tanque de lavar roupas.
Uma aventura.

Em Ferraz nossa casa era pequena, com um quintal enorme.
O pai sempre “inventava”, uma ocupação para suas horas de folga.
Nos fundos do quintal um cômodo que chamávamos de quartinho.
A edícula abrigou parentes em momentos de dificuldade.
Foi quarto de despejo, onde se guardava de tudo;
ferramentas, moveis velhos, botijão de gás, latas de tinta, madeira, etc.
Um verdadeiro quarto de bagunças.

Meu pai o transformou numa chocadeira gigante.
Um balcão de madeira foi adaptado, lugar para os ovos, muitas lâmpadas.
Não sei como ele conseguiu a temperatura ideal.
Aproximados vinte dias depois, uma enorme quantidade de pintinhos amarelos e rebolantes, apareceram das cascas dos ovos.
Pra tanto pinto providenciar um galinheiro novo, o cercado ficou pequeno.
Os pintinhos eram tratados com farelo bem miudinho,
dezenas de boluchinhas amarelas, pipocando no cercadinho de tela fina.
Ao se transformarem em frangos, iam para o galinheiro,
e atingindo peso e idade ideal,  iam pra panela. 
Nunca comemos tanta carne de frango como naqueles tempos.

Tempo lembra temporal, dezenas de franguinhos no galinheiro.
Desaba um temporal daqueles de fim do mundo.
Corre - corre no quintal, a mãe com bacia, mil toalhas velhas, socorrendo e secando os franguinhos ensopados de água de chuva, barro e titica.
Com ajuda de nossa vizinha Dna. Maria, enxugavam os bichos e os botava no quartinho, com  todas as luzes da chocadeira acesas, o velho quartinho ficou quentinho,  ali os franguinhos foram salvos da morte prematura.
O mais bizarro era minha mãe enrolando os menores em panos velhos, arrumando os numa bacia e colocando no forno levemente aquecido, os bichinhos tremiam de dar pena. Pior era o cheiro de frango molhado, eca!
Muitos foram salvos, cresceram engordaram e... foram parar na panela.  
Melhor sorte tiveram as meninas, sobreviveram por mais tempo,
comeram muito milho e puseram muitos ovos, ciscaram muito quintal.
Até que um dia pai e mãe decidiram acabar com o galinheiro,
as senhoras galinhas foram pra panela de pressão.

Se alguém achar que nada disso aconteceu, tenho testemunhas a meu favor, cada detalhe é verdadeiro, aquela noite foi uma verdadeira maratona, poucos frangos morreram. Ao lembrar a luta para salvar os frangos, acho muito engraçado, penso nos meus pais, mesmo sabendo que mais tardem os frangos seriam mortos, pendurados no varal para escorrer o sangue.
E depois iriam para a panela.
Não deixaram que os bichos morressem daquela maneira trágica,
Tremendo de frio encharcados de lama e titica.
Acabou a historia,  iniciada com pudim de leite condessado,
e finalizada com titica de galinha.