26 de abr. de 2013

GEOMETRIA + COLA = AMOR PLATÔNICO

















Reencontro através das redes sociais.
Roseli, amiga dos tempos do colegial, no Municipal de Poá.
Envio e-mail  perguntando se ela era ela mesma,
alguns detalhes do nosso tempo no colégio.
Resposta confirmando ela era ela mesma.
Minha companheira de “banco” na sala de aula.
Garota divertida e extrovertida, de descendência italiana.
Trazia riso aberto e fácil, o rosto claro sempre avermelhado.
As aulas vagas eram uma farra, ela sempre a imitar alguém.

Na sala de aula bancos para dois alunos, em madeira escura envernizada, 
acento e encosto ripado, a mesa “chamada de carteira”,
com um pequeno compartimento para guardar os cadernos,
lanche, até  a  “cola para os dias de prova”.
Mesas tão rabiscadas com canetas, lápis ou canivetes.
Por vezes nem precisávamos escrever a cola a lápis,
aluno do turno anterior já deixava a cola prontinha.

Falando em cola, nunca fui muito boa nisso,
colar na cara do professor era coisa que não conseguia mesmo.
Confesso, não era por honestidade.
Sim por total incapacidade, o sangue fervia, o rosto avermelhava.
Definitivamente não tinha sangue frio para tal atitude.
Não querendo me fazer de  CDF,
se eu gostasse da matéria ou especialmente do professor,
preparava - me para as provas e acabava indo bem, com notas razoáveis.

Naquele dia tínhamos prova de desenho geométrico com o professor Carlos,
jovem estudante fazendo faculdade deixava-nos ligadas nas suas aulas.
Aquele jovem alto moreno cabelos castanho-claros levemente crespos,
as mãos grandes  sempre claras coberta pelo fininho pó do giz,
as unhas bem cuidadas, os olhos castanhos sempre a nos olhar fixamente.
O jaleco branco  abaixo dos joelhos  o deixava mais alto ainda.
Provocando nas jovens alunas grandes amores platônicos.
Eu, sempre chegadinha num professor, rachava de estudar pra fazer bonito.
Uma maneira de chamar a atenção daquele pedaço de mau caminho.

Voltando ao dia da prova, cinco questões.
Dividir circunferência em partes iguais,quatro, seis, oito e assim por diante.
Papel de desenho, transferidor, esquadro, compasso, régua, 
borracha, apontador e o  lápis caprichado numa ponta bem fininha.

Estudei tanto, poderia dividir as circunferências de olhos fechados.
Vai daqui vai dali, faltando pouco para terminar minha prova, 
percebi minha amiga de “carteira” Roseli aos prantos,
resmungando chorosa e bem baixinho não consigo.
Rosto e olhos  vermelhos, choro silencioso e incontrolável.
Tamanho sofrimento me tocou, não tinha como passar cola,
tampouco explicar, num ímpeto troquei minha prova com a dela.
Fiz a troca tão brusca, barulhenta e desajeitada,   ops! 
Nesse exato instante o professor Carlos, se virou.
O maior flagrante da minha vida!
A merda estava feita, voltar atrás impossível,
paralisada só esperava que ele retirasse nossa prova.
Ele caminhou até nós, parou por uns segundos,
voltou lentamente para perto do quadro negro.

Silencio mortal, eu antes paralisada, agora tremia.
Passado o choque, continuei a prova da minha amiga no maior carão.
Resolvi  quatro das cinco questões e destrocamos as provas.
A folha de papel pesava muito, era como se segurasse uma batata quente.

Respirei fundo, tentando segurar as mãos e os joelhos, 
que tremiam pra cacete, entreguei minha prova.
Roseli, fez o mesmo, vindo bem atrás de mim,
usando-me  como escudo, para não encarar o professor.
Evitei olhar o jovem mestre nos olhos.
Ufa! Não fomos punidas naquele momento.
Tudo que tínhamos a fazer, aguardar as provas corrigidas.
Podia visualizar um zero bem vermelho enorme e redondo
no cantinho daquela folha de papel.

Na aula seguinte prof. Carlos devolveu-nos as provas, 
propositalmente, entregou as nossas por ultimo.
Roseli  primeiro, nota oito.
Suspense...
Entregou a minha, eu, tão nervosa não consegui desviar o olhar.  
O prof. Carlos deu um sorriso, e disse baixinho:
- “desta vez deixei passa”.
Voltei ao meu lugar nem sei como, os joelhos batiam,
o rosto queimava , sabia, estava vermelha feito um pimentão.
Só depois de estar sentada ao lado da Roseli olhei minha prova,
nota seis e meio, não era o tão temido Zero.
Todas as questões com aquele maravilhoso “C” na cor azul.
Nenhum errinho, uma prova nota dez.
Fui punida, três pontos e meio tirados.

Sempre recordo esse dia se o assunto é "cola",
por mais incrível que pareça foi a minha primeira e única vez.

Bom lembrar, melhor ainda reencontrar velhos  amigos.
Recordar nossos jovens mestres, nossos amores platônicos.



Roseli, não botei seu nome completo, espero que você ainda se lembre.



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